Título: Rio: mais mortes por armas de fogo
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 28/02/2007, O País, p. 3

Estado tem 49 cidades na lista das que têm as maiores taxas

BRASÍLIA. O Rio de Janeiro é proporcionalmente o estado com maior número de municípios entre as 556 cidades brasileiras com maiores taxas de morte por armas de fogo. Dos 92 municípios fluminenses, 53,3% (49) estão na lista. Eles responderam por 97,7% dos óbitos por armas de fogo no estado, em 2004, segundo o Mapa da Violência dos Municípios Brasileiros. O estudo mostra que 37.087 pessoas morreram atingidas por tiros naquele ano em todo o país, a maioria (92,1%) em homicídios. As 556 cidades com maiores taxas concentraram 77,2% do total, o equivalente a 28.631 óbitos.

Colniza, em Mato Grosso, é o primeiro do ranking nacional, com taxa média de 131,6 mortes para cada grupo de cem mil habitantes. Itaguaí (RJ) aparece em quarto lugar, com 89,7, a mais alta taxa fluminense. O Rio ficou na 70ª posição, com 50,1. Foram considerados desde homicídios até suicídios, tiros acidentais e disparos sem causas conhecidas.

O sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, autor do Mapa da Violência, diz que as cidades com maiores taxas deveriam ser alvo de novas campanhas do desarmamento. Segundo ele, o recolhimento de revólveres e espingardas ajudou a reduzir o número de homicídios. O total de assassinatos praticados com ou sem arma de fogo caiu de 51.043, em 2003, para 48.374, em 2004, a primeira redução da década.

Entre 1979 e 2003, 550 mil vítimas de armas de fogo no país

Ele defendeu o engajamento das prefeituras e da sociedade para combater a violência. Em outro estudo de 2005 - "Mortes matadas por armas de fogo no Brasil" -, ele concluiu que 550 mil pessoas foram vítimas de armas de fogo entre 1979 e 2003:

- Não é suficiente um estímulo, precisa haver continuidade e mobilização das forças locais.

O estudo compara as taxas de homicídio dos triênios 1997-1999 e 2002-2004. Nos assassinatos de jovens de 15 a 24 anos, o aumento superou 1.000% em oito cidades. A maior expansão ocorreu em Trindade (PE), onde a taxa média de homicídio subiu de 8 mortes por 100 mil habitantes nessa faixa etária para 176,1, uma variação de 2.095%. Em Catu, na Bahia, o salto foi de 1.835%. Considerados os assassinatos em toda a população, Coronel Fabriciano (MG) teve o maior crescimento: a taxa subiu de 0,4 para 13,9, um aumento de 3.869%. Em Medicilândia (PA), o aumento foi de 2.082%.

Para Jacobo, a descentralização do desenvolvimento econômico, os investimentos em segurança pública nas capitais e regiões metropolitanas e a melhoria das estatísticas no país ajudam a explicar o aumento das taxas no interior. Ele sugeriu que os três níveis de governo - federal, estadual e municipal - façam estudos, a partir do Mapa da Violência, para identificar as experiências que deram certo, onde houve redução de taxa, e para dobrar os esforços de contenção da violência, onde ocorreram aumentos no intervalo entre os dois triênios. Ele não arriscou explicação para as cidades cujas taxas subiram. (D.W.)