Título: Jovens morrem mais, e mais no interior
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 28/02/2007, O País, p. 3

Problema já grave nas capitais, violência se espalha pelo país

Demétrio Weber

Os 556 municípios brasileiros com maiores taxas de homicídio de jovens, o equivalente a 10% das cidades do país, concentram 81,9% das vítimas de assassinato de 15 a 24 anos. De 1994 a 2004, o número de mortos nessa faixa etária subiu 64,2%, totalizando 175.548 óbitos. É o que mostra estudo divulgado ontem pela Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI). O relatório apresenta dados de criminalidade por município, e mostra o aumento da interiorização da violência. Pela pesquisa, os índices de homicídios estão estagnados nas capitais e nas regiões metropolitanas (crescimento inferior a 1% ao ano), e crescem mais no interior.

O aumento médio de assassinatos de 1999 a 2004, nas capitais e nas principais regiões metropolitanas do país, foi de 0,8% ao ano. No interior, atingiu 5,4% ao ano.

O sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, autor do estudo, atribui a interiorização da criminalidade à descentralização econômica, aos investimentos do Fundo Nacional de Segurança Pública nas capitais e à melhoria das estatísticas de violência.

O aumento dos assassinatos de jovens supera o de homicídios na população total. O número de vítimas em todas as faixas etárias saltou de 32.603, em 1994, para 48.374, em 2004, acréscimo de 48,4%. O crescimento populacional foi de 16,5%. Na década, o Brasil teve 476.255 pessoas assassinadas, o que equivale à taxa de 27 óbitos para cada cem mil habitantes - a quarta mais alta entre 84 países pesquisados. Estavam em situação pior do que o Brasil, segundo o estudo, só Colômbia, Rússia e Venezuela.

- Ao contrário da imagem difundida pela mídia, de que a violência está concentrada em alguns focos como Rio de Janeiro, São Paulo, Distrito Federal, Pernambuco e Espírito Santo, o mapa mostra que há locais tão ou mais violentos em zonas de fronteira ou cidades pequenas, verdadeiras terras de ninguém, onde o Estado não está presente - disse Julio Jacobo.

Em 2004, quatro de cada dez jovens mortos foram vítimas de assassinato no país. O estudo mostra que o crescimento de homicídios é puxado pela juventude: de 1980 a 2004, a taxa relativa a jovens subiu de 30 para 51,7, enquanto caiu de 21,3 para 20,8 no restante da população.

Nos 556 municípios com maiores taxas de assassinato em todas as faixas etárias viviam 42% dos brasileiros. São municípios de médio e grande porte, e população média de 135 mil habitantes. Os homens são 92,1% das vítimas. A taxa de assassinato de negros superou a de brancos em 73%.

Outro indicador que revela a concentração da violência no país, pelo lado inverso, é a quantidade de cidades sem homicídios. De 2002 a 2004, 1.411 municípios - 25% do total - não registraram um assassinato sequer. Considerada apenas a população jovem, o mesmo ocorreu em 2.885 municípios (51,8%).

O Mapa da Violência dos Municípios Brasileiros reúne dados de 2002 a 2004, do Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde, cuja fonte são os registros de óbitos. A exemplo do que ocorre no caso das vítimas jovens, as 556 cidades com maiores taxas de homicídio entre todas as idades concentraram 71,8% dos assassinatos no país, em 2004.

Foz do Iguaçu (PR), na região da tríplice fronteira com Paraguai e Argentina, tem a maior taxa de homicídios da juventude, com 223,3 assassinatos para cada cem mil habitantes de 15 a 24 anos, de 2002 a 2004. Já no índice da população em geral, o primeiro é Colniza, município de 12,4 mil habitantes no norte de Mato Grosso.