Título: Macaé é o 5º município do país em assassinato de jovens de 15 a 24 anos
Autor: Balbi, Aloysio
Fonte: O Globo, 28/02/2007, O País, p. 4

Explosão da violência acompanhou crescimento econômico puxado por petróleo.

CAMPOS. Com um grande crescimento econômico nos últimos anos, puxado pela indústria do petróleo, Macaé vive também uma explosão de violência, e já é a quinta cidade do país com mais assassinatos de jovens entre 15 e 24 anos. O resultado da pesquisa não surpreendeu o delegado titular da 123ª DP (Macaé), Daniel Bandeira. Ele admite que Macaé passou a ser um território já demarcado pelo tráfico de drogas, ao qual atribuiu 95% dos casos de assassinatos de jovens. Segundo Bandeira, embora a pesquisa tenha sido feita com base em estatísticas de anos anteriores, a situação pode estar se agravando. Somente em janeiro foram registrados 19 homicídios na cidade, a maior parte ligada ao tráfico.

O delegado, que já foi titular de delegacias da Baixada Fluminense, diz que os jovens em Macaé recrutados pelo tráfico de drogas são de origem pobre, que saíram de outras cidades em busca do sonho de um emprego na capital do petróleo. Desqualificados, eles não conseguem vagas no mercado de trabalho e se tornam presas fáceis para os traficantes de drogas.

- O tráfico se mantém com a força da violência para ser respeitado, e uma das formas de ser respeitado é eliminando seus rivais. Aqui não há uma guerra do tráfico com tanta visibilidade como no Rio, mas ela existe, e os jovens que vieram em busca do sonho do bom emprego acabam se envolvendo com essa atividade criminosa e morrendo. Todas essas mortes têm que ser colocadas na conta do tráfico - disse o delegado.

Facções do Rio controlam e disputam pontos na cidade

Bandeira acrescentou que a 123ª DP (Macaé) registra uma média de 25 ocorrências por dia, dos mais variados crimes, o que proporcionalmente chega a ser maior do que delegacias da área metropolitana do Rio.

- Para uma cidade com 180 mil habitantes, o número chega a ser assustador. Temos deficiências que agora estão sendo resolvidas a partir de um entendimento da prefeitura com a Secretaria de Segurança. A polícia precisa de pessoal e infra-estrutura para enfrentarmos esse problema - disse Bandeira.

Facções do Rio controlam o território macaense. A ordem de execuções partem muitas vezes de morros cariocas.

- Em Macaé a barra é mais pesada. A praça interessa aos barões das drogas, e cada ponto rende muito dinheiro. A guerra existe. A maioria dos jovens não é executada por dívidas, e sim por fazer parte de determinados grupos que disputam esses pontos - afirmou um inspetor.

Uma chacina em outubro de 2003, no Morro da Mineira, no Rio, para muitos ilustra essa influência do tráfico carioca. Foram executados seis jovens de Macaé, entre 16 a 25 anos. Iam, numa van, para uma festa, quando se perderam e foram parar na favela. Segundo depoimento do motorista da van, eles chegaram ao morro guiados por um taxista, a quem pagaram R$30 para levá-los à festa. Lá, foram interceptados por traficantes, que executaram, com tiros na cabeça, seis dos passageiros. Os cadáveres foram postos na van pelos bandidos, que ordenaram ao motorista que levasse os corpos de volta a Macaé.

Para ter certeza de que o motorista cumpriria a ordem, mandaram motoqueiros escoltarem a van até Rio Bonito, na BR-101. Muitos acreditam que queriam mandar um recado para Macaé. Os mortos não tinham passagem pela polícia e iriam a uma festa de um grupo rival aos traficantes da Mineira.