Título: Os jovens viraram reféns do vício
Autor: Carvalho, Ana Paula de
Fonte: O Globo, 28/02/2007, O País, p. 8

Mãe que perdeu filho adolescente assassinado culpa o tráfico de drogas

Letícia Lins

RECIFE. Embora as instituições de defesa dos direitos humanos ainda investiguem os altos índices de mortalidade por causas violentas entre os jovens recifenses - que chegam a 207,9 homicídios por cem mil -, para o diretor de Homicídios e Proteção à Pessoa da Secretaria de Defesa Social, Joel Venâncio, a explicação é simples: normalmente é o narcotráfico que está por trás de tantos assassinatos de jovens entre 15 e 24 anos.

Essa também é a tese de quem viu a dura realidade de perto. Emigrante da região canavieira e trabalhando desde os 12 anos como empregada doméstica na capital, X., de 36 anos, viu o filho ser executado aos 18 na porta de sua casa, depois de ter mergulhado por dois anos na marginalidade. Ele deixou uma viúva de 19 anos e um filho, hoje com 3. O rapaz tinha 16 anos quando optou pelo tráfico de tubos de loló num carnaval de Olinda. Depois, viciou-se em inalantes, maconha e crack. Em pouco tempo estava disputando espaço com traficantes numa das mais violentas favelas da capital e onde a mortalidade de jovens também é muito alta.

X. lembra-se de pelo menos seis jovens que tombaram como seu filho na comunidade:

- Quando escolhi invadir um terreno vazio em Recife juntamente com 400 outras famílias, vim atrás do sonho de ter um lugar para morar. Durante dois anos só fiz trabalhar para transformar meu barraco numa casa de alvenaria. Quando terminei, o inferno começou. A favela foi dominada por traficantes, e os jovens viraram reféns do vício. Para mim, os jovens estão morrendo assassinados porque estão envolvidos com drogas - disse ela, enquanto visitava o túmulo do filho morto, no bairro de Casa Amarela.

Ela conseguiu moradia em outra comunidade, que até o ano passado era tranqüila, mas que já começa a enfrentar problemas por causa do tráfico crescente:

- Tenho muito medo de voltar a mergulhar no inferno - diz ela, que, pelas frestas da janela de sua pequena casa de três cômodos, presencia a venda de drogas. Ela teme pelo futuro da filha, da nora e dos netos, que dependem do seu trabalho.