Título: PMDB aceita Temporão, mas quer outra pasta
Autor: Franco, Ilimar e Camarotti
Fonte: O Globo, 28/02/2007, O País, p. 10

Diante da resistência do PP e da indefinição de Lula, PT desiste de tentar garantir Cidades para Marta Suplicy

Ilimar Franco e Gerson Camarotti

BRASÍLIA. Os dois principais partidos do governo, o PT e o PMDB, abriram mão ontem de suas principais reivindicações na reforma ministerial. O PT desistiu de insistir na indicação da ex-prefeita Marta Suplicy para o Ministério das Cidades, e a bancada do PMDB na Câmara retirou suas indicações para o Ministério da Saúde, viabilizando a nomeação do médico sanitarista José Gomes Temporão para a pasta, como deseja o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A nova posição foi comunicada ontem pelos presidentes do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), e do PMDB, deputado Michel Temer (SP), ao ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro. O PMDB da Câmara, que já dá como certa a nomeação do deputado Geddel Vieira Lima (BA) para o Ministério da Integração Nacional, aguarda agora que lhe seja oferecida uma outra pasta no lugar da Saúde.

- Para não criar constrangimento para o presidente e colaborar com o governo, o Ministério da Saúde deixa de ser uma demanda da bancada. O partido já tem um nome de consenso para a Integração e agora aguarda um outro espaço a ser definido - disse o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), que também participou da reunião no Planalto.

"Temporão não é da cota da Câmara, ninguém é trouxa"

Os peemedebistas cobraram de Tarso o direito de a bancada da Câmara indicar políticos, a exemplo do que fizeram o PMDB do Senado e outros partidos da base governista. Lembraram ao ministro que foi o próprio presidente que afirmou que as bancadas da Câmara e do Senado teriam o mesmo espaço, dois ministérios cada.

Na conversa, Eduardo Alves citou como exemplos de compensações as pastas de Transportes, Cidades e Educação, que eles consideram que tem capilaridade. Mas podem aceitar outra com menos poder. Ao final do encontro, o líder se reuniu no plenário da Câmara com dois dos citados para a Saúde, os deputados Darcísio Perondi (RS) e Marcelo Castro (PI), que não gostaram da notícia.

- O presidente nomeia quem quiser, mas não vai colocar o Temporão na cota do PMDB da Câmara, porque ninguém é trouxa - afirmou Marcelo Castro.

Eduardo Alves explicou que o partido não poderia ficar brigando com Lula e que era preciso aceitar sua opção por uma indicação de caráter técnico.

Lula quer oferecer Previdência a peemedebista

Antes da reunião no Planalto, Tarso, depois de encontro na OAB sobre reforma política, havia deixado claro que Lula já tinha uma posição tomada, quando lhe foi perguntado sobre a possibilidade de Temporão ficar como secretário-executivo.

- O presidente Lula tem o entendimento de que Temporão tem estatura para ser ministro - disse Genro.

A intenção de Lula é oferecer para o PMDB o Ministério da Previdência. Na noite de segunda-feira, Tarso chegou a sugerir a Temer que aceitasse um convite para assumir a pasta. O peemedebista recusou. Os aliados de Temer avaliam que a oferta de Tarso não era para valer, mas apenas uma isca para tentar retirá-lo da disputa pelo comando do partido contra ex-presidente do STF Nelson Jobim.

Depois de serem informados por Tarso de que os petistas dificilmente levariam a pasta das Cidades, a Executiva do PT decidiu mudar de tática. Vai levar uma lista de candidatos a ministros do partido, da qual constam Marta Suplicy e o deputado Walter Pinheiro, mas sem especificar a pasta.