Título: Exportador brasileiro pode ter prejuízo
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Fonte: O Globo, 28/02/2007, Economia, p. 20

Desaceleração da China e dos EUA reduziria as vendas externas do país

Ana Cecília Santos

A confirmação de uma desaceleração nas economias chinesa e americana pode afetar o preço das commodities e abalar o comércio exterior brasileiro. A previsão é do vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, que vê com cautela a queda acentuada das bolsas mundiais ontem:

- Por ora, a situação é de apreensão. Mas os efeitos nas bolsas mostram o peso da China no mundo de hoje. Se o cenário de desaceleração da economia chinesa se confirmar, os efeitos serão muito negativos para as exportações brasileiras. Já as importações, não necessariamente serão afetadas.

Castro afirma que o prejuízo será duplo. Como a pauta de exportações brasileira é formada basicamente por commodities como minério, soja e petróleo, a queda, segundo ele, afetará tanto o volume vendido quanto o preço:

- Tudo deverá sofrer queda, salvo o minério, que tem preço fixo. Neste momento, a soja está com o preço elevado, mas também poderá cair se a situação se agravar.

Segundo Castro, 2006 foi o último ano em que o Brasil teve superávit com a China. Em janeiro, a balança comercial com a China já apresenta déficit de US$233 milhões. As exportações somam US$558 milhões, contra US$791 milhões em importações. Em igual período do ano passado, o déficit era de apenas US$24 milhões. Já em 2006 os números mostravam uma redução drástica no superávit, que passou de US$1,479 bilhão em 2005 para US$410 milhões no ano passado.

- A China exporta produtos manufaturados, que são estáveis, enquanto o Brasil tem em sua pauta basicamente só commodities, que são instáveis. A China decidiu em 2007 buscar expansão de seu comércio com a América do Sul, o que fez aumentar as exportações, principalmente para o Brasil - explica Castro.

O chefe de pesquisa para América Latina do West LB, Ricardo Amorim, não vê motivo para preocupações e afirma que a China continuará comprando do Brasil tanto quanto antes. Segundo ele, mesmo com déficit, a China ajuda indiretamente a balança comercial brasileira:

- A China ajuda a manter o preço das nossas commodities alto porque a demanda dos chineses é grande. Além disso, eles mantêm a taxa de juros mundial baixa. Ou seja, o impacto indireto da China no Brasil, apesar da balança comercial em déficit, é positivo.