Título: No Senado, fogo amigo e elogios
Autor: Duarte, Patricia e Beck, Martha
Fonte: O Globo, 28/02/2007, Economia, p. 21

Enquanto governo cobra menos conservadorismo, oposição defende BC

Patrícia Duarte

BRASÍLIA. Enquanto senadores da base governista cobravam menos conservadorismo na condução da política monetária, abrindo o chamado "fogo amigo", o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, era exaltado, ontem, pelos parlamentares da oposição, sobretudo do PSDB, durante a audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. Os tucanos chegaram a afirmar que a autoridade monetária foi o único órgão do governo que, ao manter a inflação sob controle, cumpriu suas obrigações no primeiro mandato do presidente Lula.

Meirelles, acompanhado de seis diretores do BC, explicou o processo recente de definição das taxas de juros e voltou a defender que o fato de a inflação algumas vezes ficar abaixo do centro da meta é normal e ocorre em outros países que adotam o mesmo regime. Em 2006, quando o centro da meta era 4,5%, o IPCA fechou a 3,14%:

- É igual a eletrocardiograma: se estiver reto, o cidadão já morreu.

Mercadante: "O BC não quer correr nenhum risco"

Ele, porém, reafirmou que o atual conservadorismo do BC pode permitir que, no futuro, venha a aumentar novamente a magnitude do corte dos juros, como expresso na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).

Apesar das respostas, o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), presidente da CAE, não poupou o BC e disse que os argumentos "não convenceram". Para ele, o país pode reduzir mais os juros.

- O BC não quer correr nenhum risco, mas transfere o risco para o crescimento econômico - afirmou o senador, um dos responsáveis pela indicação de Meirelles em 2003.

Na última reunião do Copom, a Taxa Selic foi reduzida em 0,25 ponto percentual, para 13% ao ano. A decisão parece não ter desagradado a oposição.

- Temos de parabenizar o BC pela meta (de inflação) e por resistir às pressões políticas - disse o senador Marconi Perillo (PSDB-GO).

O líder dos tucanos, senador Arthur Virgílio (AM), defendeu a permanência de Meirelles:

- Não vejo como mudar a gestão. Só o BC entregou a "mercadoria" neste governo.

Meirelles tentou minimizar o "fogo amigo":

- Nunca senti o BC tão elogiado no Congresso. O debate é legítimo. É normal também que o BC, que tem comportamento autônomo, seja objeto de críticas e de elogios não-alinhados politicamente.