Título: Meirelles: é um aviso para BC ter mais cautela
Autor: Duarte, Patricia e Beck, Martha
Fonte: O Globo, 28/02/2007, Economia, p. 21

Mantega, porém, diz que turbulência de ontem no mercado é passageira, devido à solidez da economia brasileira

Patrícia Duarte e Martha Beck

BRASÍLIA. Apesar de considerar prematuro afirmar que haverá uma mudança do cenário internacional, o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, disse ontem que a turbulência originada na China pode ser um aviso para que a instituição tenha mais cautela em sua atuação daqui em diante. Meirelles, que participou de audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, aproveitou a crise nas bolsas para defender a política monetária - criticada por parte do governo e do mercado por ser muito conservadora.

- Talvez o que esteja acontecendo nas últimas horas (ontem) nos mercados mundiais seja um aviso para que tenhamos prudência, ou, nas palavras do BC, parcimônia - afirmou Meirelles, referindo-se à palavra que tem sido uma constante nas atas do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC.

Após a audiência, em entrevista, Meirelles quis amenizar suas declarações, afirmando que falou em parcimônia ao responder a uma questão sobre câmbio, e não sobre juros:

- Talvez, meramente talvez, o movimento dos mercados asiáticos tenha sido um alerta, de que o mercado se move em duas direções.

Meirelles: BC não mudará política de compra de dólar

Duas frentes de ação do BC afetadas por instabilidades financeiras são o mercado de câmbio e a taxa de juros. No primeiro caso, a autoridade monetária vem comprando dólares e acumulando reservas internacionais, para tentar segurar a forte alta do real. Crises costumam ser fator de depreciação da moeda local, o que tem impacto sobre a inflação.

Na área monetária, o BC reduz a taxa de juros desde setembro de 2005. As crises costumam representar fuga de capitais e, para segurá-los, os juros devem ficar altos, garantindo a atratividade do país aos investidores, mais aversos a risco. Além disso, se o câmbio começa a subir, mudam os parâmetros para o futuro da inflação.

O BC já tem sido alvo de ataques, inclusive no próprio governo, por ter reduzido o corte de juros em janeiro - diminuiu em 0,25 ponto percentual a Selic, para 13% ao ano. Nos cinco encontros anteriores havia decidido por 0,50 ponto. Com a inflação projetada abaixo do centro da meta - de 4,5% pelo IPCA -, o BC é visto como vilão do crescimento econômico.

Ministro da Fazenda vê "problema de curta duração"

Meirelles disse que o Copom, que se reúne na próxima semana para fixar a nova Selic, não levará em consideração só o que aconteceu ontem nos mercados:

- O Copom considera uma série grande de fatores e de análise. Portanto, não devemos nos apegar a um ou outro fator.

Meirelles garantiu que não mudará a política de compra de dólares do BC para elevar as reservas internacionais, hoje na faixa de US$100 bilhões, recorde absoluto. Na CAE, ele defendeu que, apesar de o custo das reservas ser alto (elas rendem menos do que o valor pago para captar os recursos e comprar moeda estrangeira), os reflexos no país são positivos, já que diminuem o risco-país.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, também optou pela cautela, afirmando que as turbulências de ontem são passageiras, devido à solidez da economia brasileira:

- A expectativa dos analistas é que será uma crise passageira. Aliás, vamos chamar de turbulência. Não chamaria de crise exatamente. É normal que esse mercado (chinês) tenha correções. É só ver que a valorização do mercado acionário chinês foi de 160% no ano passado. Vejo problema de curta duração, que poderá causar alguma oscilação.