Título: Cheney era o alvo de ataque talibã
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Fonte: O Globo, 28/02/2007, O Mundo, p. 27

Vice dos EUA escapa de atentado suicida que matou 14 em base militar no Afeganistão.

CABUL

Ovice-presidente dos Estados Unidos, Dick Cheney, viu-se ontem cara a cara com a violência no Afeganistão, quando um homem-bomba matou pelo menos 14 pessoas diante da principal base americana no país, onde ele estava. O Talibã assumiu a autoria do atentado e disse que Cheney era o alvo. O vice-presidente escapou ileso, mas o ataque traz um forte efeito simbólico. Mais de cinco anos após a derrubada do regime fundamentalista do Talibã, os EUA não conseguiram debelar a violência ou mesmo deter um ataque à sua base de maior segurança no país, no momento em que ela abrigava uma autoridade sua.

Cheney ¿ que fazia uma visita-surpresa ao país para discutir o recrudescimento da violência ¿ foi levado às pressas a um abrigo antibomba. Ele havia passado a noite na Base Aérea de Bagram devido ao mau tempo, que o impedira de seguir na véspera até a capital afegã, a 60 quilômetros de distância. Ele estava em seu quarto, quando o atentado ocorreu:

¿ Às 10h ouvi uma forte explosão ¿ contou Cheney. ¿ O serviço secreto veio e me disse que tinha havido um ataque no portão principal.

Visita ao país cercada de sigilo

A explosão levou os militares a declararem alerta vermelho. Há divergências sobre o número de mortos. O governo afegão afirmou que 23 pessoas morreram, enquanto a Otan falou em quatro: entre elas um soldado americano e outro sul-coreano. Jornalistas no local calcularam 14 mortos. Não está claro como o homem-bomba conseguiu se aproximar da base.

¿ Ainda estamos investigando o que ocorreu ¿ disse o porta-voz da Casa Branca, Tony Snow, chamando o episódio de ¿ataque isolado¿.

Qari Yousef Ahmadi, porta-voz do Talibã, disse que Cheney era o alvo:

¿ Sabíamos que ele estaria na base ¿ contou por telefone. ¿ O combatente tentava chegar até ele.

Para especialistas, o atentado demonstra que os talibãs e a rede al-Qaeda conseguiram se infiltrar nos serviços secretos afegãos, já que a visita era cercada de sigilo.

¿ Eles estavam esperando uma visita de alto nível para atacar. A visita, apesar de mantida em segredo, era conhecida em alguns círculos em Cabul e Islamabad ¿ destacou o jornalista e escritor Ahmed Rashid.

Uma fonte no governo americano disse que Cheney estava a uns 800 metros do local da explosão e que não correu perigo. Cerca de duas horas depois, ele partiu para Cabul, para se encontrar com o presidente Hamid Karzai, antes de seguir para Omã.

¿ Acho que eles (talibãs) claramente tentam encontrar meios de questionar a autoridade do governo central ¿ disse Cheney. ¿ Mas isso não vai alterar nosso comportamento.

A viagem de Cheney acontece em meio à preocupação crescente sobre atividades do Talibã e da al-Qaeda no país e na fronteira com o Paquistão. Há temores de uma nova ofensiva na primavera afegã, que começa em semanas. Há atualmente 27 mil soldados americanos no país, o maior número desde a guerra, em 2001. Ontem, outro homem-bomba detonou explosivos em Kandahar, matando uma pessoa.

Cheney chegara ao Afeganistão na segunda, após se reunir com o presidente paquistanês, Pervez Musharraf, em Islamabad. Ele pediu ao Paquistão para se esforçar mais no combate a terroristas na fronteira.

Outra autoridade americana se viu envolvida num ataque ontem, desta vez no Sri Lanka. O embaixador dos EUA, Robert Blake, e outros diplomatas viajavam no helicóptero do ministro para Desastres e Direitos Humanos, Mahinda Samarasinghe, atacado por obuses dos Tigres para a Libertação da Pátria Tamil. Os embaixadores da Alemanha, Juergen Weerth, e da Itália, Pio Mariani, foram levemente atingidos por estilhaços de projéteis que caíram na base de Batticaloa, quando desciam do helicóptero.

Com o Independent