Título: Às vezes violência é questão de sobrevivência
Autor: Lins, Letícia
Fonte: O Globo, 01/03/2007, O País, p. 12

O mal já está feito. Agora o que precisamos é acabar com essa situação", diz presidente.

Lula afirma que não há perspectiva de solução imediata para o envolvimento dos jovens com a criminalidade.

Letícia Lins

IPOJUCA (PE). Um dia após a divulgação do Mapa da Violência dos Municípios Brasileiros, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que "o mal já está feito", que por enquanto não há perspectiva de solução imediata e que o problema não se combate apenas com mais policiamento nas ruas. Afirmou, ainda, que muitas vezes a violência "é uma questão de sobrevivência", e disse que seu governo está empenhando em proporcionar educação de mais qualidade aos jovens para que o problema não persista com tanta gravidade.

- Se a gente não mudar, para que país cresça, gere empregos, crie oportunidade para essa meninada entrar na universidade, aprender uma profissão, se a gente não fizer isso, pode botar dez vezes mais polícia na rua e não resolverá o problema da violência, porque muitas vezes ela é uma questão de sobrevivência. Precisamos levar em conta que essa não é a regra, mas a exceção - disse o presidente.

Em sua visita a Pernambuco, o presidente abordou a questão por duas vezes e ainda voltou ao tema em entrevista coletiva. Lula foi ao estado para lançar a pedra fundamental do pólo petroquímico de Suape. O porto fica no município de Ipojuca, a 57 quilômetros da capital, onde ele também presidiu a inauguração da maior fábrica de resina PET do mundo, construída pelo grupo italiano Mossi & Ghisolfi e que exigiu investimentos superiores a R$700 milhões.

Lula culpa política econômica do passado pela violência

Ao referir-se ao Brasil como um país de oportunidades e que vive em um momento de credibilidade internacional, Lula destacou a violência como um dos principais problemas, do qual os jovens são não só vítimas como protagonistas:

- Eles são resultado de décadas de políticas econômicas que não surtiram os efeitos causadores de esperanças e expectativas. Portanto, esses jovens são vítimas de erros cometidos no passado. E nós temos a responsabilidade de evitar que os futuros adolescentes sejam vítimas dos mesmos erros que esses foram agora. O caso não tem solução imediata. E ninguém pode ficar apenas procurando quem é o culpado por essa situação. Tem muitos culpados, tem muitas causas. Todo mundo sabe o diagnóstico. O que precisamos é que assumamos as nossas responsabilidades, o prefeito, o governador, o governo federal, a sociedade brasileira - disse. Lula afirmou ser necessário que o país encontre urgentemente soluções para que não se perpetue como um retrato da violência. Para ele, só há um meio de combatê-la: a combinação de investimentos em educação, com a geração de emprego e renda.

- O mal já está feito. Agora o que precisamos é acabar com essa situação, que não é motivo de orgulho para nenhum de nós - disse.

Para o presidente, não falta cadeia para os jovens

Em seguida, Lula foi lançar a pedra fundamental do Pólo Petroquímico de Suape, onde voltou a falar da violência. Disse que está lutando para transformar o Brasil em um país equânime, onde haja oportunidades para todos.

Ao final da solenidade, mais uma vez voltou ao tema, desta vez pressionado por repórteres, quanto à redução da maioridade penal. Lula pediu que essa discussão não seja feita com conteúdo emocional:

- Todos que cometeram crimes bárbaros têm que ser punidos. Mas o estado brasileiro precisa pensar, também, que essa juventude faz 26 anos que não vê a economia crescer.

Para Lula, o que está faltando para evitar a violência entre os jovens não é cadeia, mas sim criar oportunidades para que tenham esperança de que o país vai dar certo.