Título: Agora, só resta o segundo ato
Autor: Almeida, Cássia e Rodeigues, Luciana
Fonte: O Globo, 01/03/2007, Economia, p. 29

Lula termina 1º governo com PIB de 2,9% em 2006 e fica devendo o espetáculo

Cássia Almeida e Luciana Rodrigues e Letícia Lins

OO pano caiu e o espetáculo do crescimento prometido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva não aconteceu. O último ano do primeiro mandato de Lula fechou com uma expansão do Produto Interno Bruto (PIB) de tímidos 2,9%, pouco acima dos 2,3% de 2005. O percentual ficou praticamente na metade do crescimento mundial de 5,1% no ano passado, calculado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).

O consumo das famílias - alavancado por ganhos salariais e oferta maior de crédito - e o investimento puxaram o desempenho. Mesmo assim, o real valorizado estimulou importações e impediu que o Brasil crescesse um pouco mais.

- A demanda interna cresceu bastante, com destaque para o investimento e para o consumo das famílias, devido a vários fatores: a massa salarial real continuando a crescer (5,6% no ano), mais o crédito que aumentou 29,9%, mantendo o comportamento de 2005. O câmbio baixo por bastante tempo favoreceu as importações, sobretudo de máquinas e equipamentos - explicou a gerente das Contas Trimestrais, Rebeca Palis.

Lula elogia a economia arrumada

Pela primeira vez desde 2000, as exportações líquidas (menos as importações) pesaram contra o crescimento do PIB. Não fosse o ritmo tão acelerado das importações no ano passado, o setor externo não teria apresentado recuo de 1,4% e o PIB como um todo teria crescido 4,2%, influenciado principalmente pelo aumento de 3,8% no consumo das famílias e de 6,3% no investimento.

Para Paulo Levy, do Ipea, a alta das importações (18,1% no ano contra 5,6% de exportações) tem um lado positivo:

- Foi o aumento das importações que permitiu que o consumo e os investimentos crescessem.

A renda per capita (o PIB dividido pelo número de habitantes) subiu 1,4% em 2006. Mas esses números podem - e devem - mudar muito em breve. Nada a ver com manipulações estatísticas, mas porque daqui a um mês, o IBGE vai alterar a forma de calcular as contas nacionais, revisando todas as taxas desde 1991, inclusive as de 2006.

No último trimestre, a economia cresceu mais. Frente ao terceiro trimestre, avançou 1,1%, o que significa uma taxa anualizada de 4,5%. Contra os últimos três meses de 2005, a alta foi de 3,8%:

- Esse crescimento sugere que a queda de juros começa a ter efeito. A tendência é de que 2007 tenha um desempenho mais forte - disse Armando Castelar, do Ipea.

E o consumo das famílias, que responde por 55,5% da economia, também cresceu com força no fim de 2006: alta de 4% frente a 2005 e 1,5% em relação ao terceiro trimestre.

Todos os setores, tanto pela ótica da oferta de produtos, como pela demanda, apresentaram crescimento no ano. Apenas o setor de comunicações teve queda de 0,9%, por causa da queda da telefonia fixa, num comportamento já observado em outros anos. A agropecuária cresceu 3,2% e a indústria, 3% - puxada por construção civil (4,5%). Os serviços avançaram 2,4%, refletindo o bom desempenho do comércio (4%).

- A melhoria na massa salarial se refletiu mais no comércio varejista - disse Rebeca Palis, do IBGE.

O presidente Lula confessou que desejava um crescimento maior do PIB, mas disse que isso não é motivo para desânimo. Ele falou durante visita ao complexo industrial portuário de Suape, na inauguração da maior fábrica de resina PET do mundo.

-- É importante lembrar que só podemos falar em crescimento hoje porque estamos com a economia arrumada. Se não estivesse, a gente estaria devendo ao FMI, teria uma dívida pública quase insustentável, não teria reservas, aumento da poupança interna nem crédito - disse.