Título: Consumo impulsionou o resultado
Autor: Almeida, Cássia e Rodrigues, Luciana
Fonte: O Globo, 01/03/2007, Economia, p. 30

Elevação de renda e crédito fizeram setor subir 3,8% no ano passado

Cássia Almeida e Bruno Rosa

O consumo das famílias brasileiras foi um dos principais motores para o crescimento de 2,9% da economia no ano passado. O setor que responde por 55% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de riquezas geradas no país) subiu 3,8% no ano e 4% frente ao último trimestre de 2005. Há 13 trimestres seguidos, essa parcela da economia vem crescendo nessa comparação anual. Aumento do emprego e da renda, somados à expansão do crédito, fizeram a demanda das famílias crescer com força.

A família do gerente administrativo Valdenício Felipe aproveitou os benefícios da melhoria na renda em 2006. Com dois filhos, Ian, de 11 anos, e Lucas, de 8, ele acabou de reformar o apartamento. Além de investir nas obras, a família comprou móveis e consumiu mais alimentos.

- Meus filhos ganharam um quarto só para eles. Assim que ficou pronto, compramos ventilador e armário, além de uma mesa de jantar para a nova sala. Também caprichamos na escolha da cerâmica - disse Josefa Maria, esposa de Valdenício.

O consumo na casa não ficou restrito aos bens duráveis:

- Compramos mais carne, peixe, frango e leite. Estamos pensando na saúde de nossos filhos. A folga no orçamento permitiu a compra de mais biscoitos, pães e queijos.

A forte demanda doméstica confirma que o setor externo, que impulsionou a economia em anos passados, perdeu significância, na opinião do economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Armando Castelar:

- As importações maiores vieram para acomodar esse consumo das famílias e o investimento, freando a pressão sobre os preços.

Consumo deve continuar a subir forte este ano

As previsões dos economistas mostram que essa expansão dos gastos das famílias superior à do PIB deve prosseguir nos próximos anos. Antonio Licha, coordenador do Grupo de Conjuntura da UFRJ, espera que o consumo tenha expansão de mais de 5% este ano.

- Com a inflação baixa, a renda do trabalhador deve continuar crescendo e o emprego também. O ciclo de alta de crédito ainda não se encerrou e deve ter expansão de 20% este ano.

O avanço forte da demanda de 1,5% no último trimestre frente ao período de agosto a outubro mostra, para o economista-chefe da Corretora Concórdia, Elson Teles, que o Banco Central está preocupado com o descompasso entre a demanda e a oferta de produtos.

- Isso, em algum momento, pode incomodar - diz o economista.