Título: PIB de Lula iguala o do primeiro mandato de FH
Autor: Rodrigues, Luciana e Novo, Aguinaldo
Fonte: O Globo, 01/03/2007, Economia, p. 31

Taxa foi de 2,6% anuais entre 2003 e 2006, mesmo índice dos quatro anos iniciais de Fernando Henrique.

Mas petista supera, na média, oito anos do tucano. Defasagem para a economia global só não é pior que a de Collor

Luciana Rodrigues, Aguinaldo Novo e Cássia Almeida

RIO e SÃO PAULO. Com o resultado de 2006, a economia brasileira cresceu em média 2,6% ao ano durante o governo Lula - taxa exatamente igual ao do primeiro mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Lula supera, porém, o desempenho da segunda gestão FH (2,1%) e ainda obtém resultado ligeiramente superior à média dos oito anos de seu antecessor (2,3%). Mas, quando o quesito é a defasagem em relação ao crescimento mundial, Lula só não fica atrás de Fernando Collor.

O economista Reinaldo Gonçalves, da UFRJ, calculou o hiato entre a expansão do PIB nacional e a média global. Entre 2003 e 2006, a economia mundial cresceu em média 4,9% ao ano, o melhor desempenho em décadas. A diferença frente ao Brasil foi de 2,1%. No governo Collor, quando o país enfrentou uma recessão, esse hiato foi maior, de 3,47%.

Carga tributária, juros altos e câmbio travam a economia

Gonçalves destaca que, assim como Lula, Fernando Henrique teve a seu favor os bons ventos da economia mundial, que cresceu com força até 2000. As crises financeiras do período, diz o economista, mesmo as que se iniciaram no exterior (caso da Ásia em 1997, da Rússia em 1998 e da Argentina entre 2000 e 2001), só afetaram o Brasil porque o país estava vulnerável.

O baixo crescimento do PIB brasileiro nos últimos anos é resultado de juros altos e elevação dos gastos públicos, que engessam a economia, afirma Alex Agostini, da Austin Rating. Para Solange Srour, da Mellon Global Investments, a fragilidade fiscal impede o corte nos juros.

Luiz Roberto Cunha, professor da PUC-Rio, atribui o baixo dinamismo da economia à carga tributária elevada e à poupança negativa do governo, que, dessa maneira, não consegue realizar investimentos públicos:

- Por isso, me intrigam as comparações com China e Índia. O mercado de trabalho desses países é por demais liberalizado, a previdência social lá nem de longe tem o peso daqui. Mas não acredito que os brasileiros gostariam de um modelo assim.

O pouco investimento em educação é um dos principais entraves para a economia brasileira, diz Armando Castelar, do Ipea. Para ele, enquanto países emergentes como China e Índia investem maciçamente em capital humano, no Brasil os indicadores envergonham:

- Além da carga tributária alta (os impostos no PIB em 2006 subiram 4,4%), falta infra-estrutura e segurança jurídica. E a educação é uma das principais barreiras. Estamos ficando para trás na formação da mão-de-obra.

Para Antonio Licha, da UFRJ, a apreciação do câmbio em 2006 foi a responsável pelo baixo crescimento no ano passado:

- Em 2001, tivemos crise de energia. Em 2002, crise cambial. Em 2004 e 2005, o Banco Central subiu demais os juros. E agora, em 2006, o dólar baixo.