Título: Nova metodologia pode elevar expansão do PIB
Autor: Almeida, Cássia e Rodrigues, Luciana
Fonte: O Globo, 01/03/2007, Economia, p. 33

Mudança afetará indicadores de dívida, superávit fiscal, carga tributária e até gasto com educação IBGE vai aprimorar cálculo e taxa ficará mais volátil. Analistas acreditam que resultado de 2006 aumentará

Cássia Almeida e Luciana Rodrigues

Uma mudança no cálculo do PIB provavelmente elevará o número apresentado ontem pelo IBGE. No fim deste mês, o instituto divulgará o crescimento da economia em 2006 com base numa nova metodologia. Os analistas são unânimes em afirmar que o aprimoramento do cálculo fará o PIB oscilar mais. E muitos acreditam em aumento na taxa de crescimento dos últimos anos, já que os números desde 1991 serão revistos.

Luiz Roberto Cunha, professor da PUC-Rio, acredita que a alta virá na administração pública e no setor financeiro. Pela metodologia antiga, a expansão do setor público, exceto saúde e educação, era medida pelo crescimento demográfico. Mas a população não tem aumentado muito nos últimos anos.

- O IBGE vai olhar para dispêndios específicos da administração pública - diz Cunha.

No setor financeiro, a tendência também é de acréscimo nas taxas. Nos anos de inflação alta, para eliminar as distorções da correção monetária, o IBGE fazia um desconto no cálculo do PIB, o chamado dummy financeiro. Isso deixará de existir. E o crescimento do setor será medido a partir de dados mais fiéis, como informações prestadas à Receita Federal.

- O crédito bancário cresceu muito nos últimos anos, e isso deve aparecer - afirma Cunha.

Hoje, o IBGE usa como referência o Censo Econômico de 1985. Agora, serão adotadas referências mais atuais da estrutura da economia brasileira. Na primeira revisão, os dados serão de 2000.

- O PIB será mais volátil, porém mais próximo da realidade. E a revisão nos números deve ser para cima - diz Solange Srour, da Mellon.

A acréscimo de produtos que tiveram crescimento acima da média, como os celulares, podem aumentar o tamanho da economia brasileira, na opinião de Armando Castelar, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea):

- Eram itens com pouca importância. Vai melhorar a qualidade da informação. Com dez anos de estabilidade de preços, os balanços das empresas passam a dizer alguma coisa. Diferentemente do período de inflação alta.

Ele acredita que as variações anuais devem ser maiores, impactando vários indicadores medidos como proporção do PIB. E cita a relação com a dívida pública, que poderá diminuir:

- Mas outros indicadores podem mostrar que os números atuais são piores do que imaginávamos. Um deles é o superávit primário. O esforço fiscal será menor, assim como o gasto com educação.