Título: Mantega culpa juros; Planejamento se frustra
Autor: Beck, Martha
Fonte: O Globo, 01/03/2007, Economia, p. 34

Presidente do Banco Central limita-se a dizer que expansão em 2006 ficou dentro das expectativas

Ministro da Fazenda se diz satisfeito, e Paulo Bernardo afirma que crescimento foi aquém do desejado pelo governo

Martha Beck

BRASÍLIA. As duas principais cabeças da equipe econômica na Esplanada dos Ministérios pareciam estar fora de sintonia na hora de comentar, ontem, o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) em 2006. Enquanto o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, admitia que a expansão de 2,9% ficou aquém tanto das expectativas do governo quanto das necessidades do país, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, declarou-se satisfeito e aproveitou para atribuir aos juros altos, e também à agricultura - embora os números do IBGE mostrem que o setor se recuperou no ano passado - o desempenho inferior ao imaginado pelo governo.

Os dois só mostraram afinação ao comentar o que viram de bom nos números do IBGE. Ambos destacaram o crescimento de 6,3% da taxa de investimento e a aceleração do PIB no quarto trimestre - o que indica, na visão de ambos, que 2007 será melhor. O terceiro vértice, o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, evitou comentar os dados, limitando-se a dizer que o crescimento de 2006 ficou dentro da expectativas.

- O resultado do PIB é aquém do que nós gostaríamos e aquém do que o país precisa, mas foi maior do que os analistas estavam projetando e tem dados muito positivos. O fato de ter havido aceleração no último trimestre nos dá a certeza de que vamos ter crescimento muito mais vigoroso em 2007 - disse Paulo Bernardo. - Falei com o presidente Lula hoje de manhã e ele está muito otimista.

Já Mantega disse:

- Eu achei que foi um bom resultado.

Paulo Bernardo e Mantega frisaram que, se a taxa de crescimento do último trimestre de (1,1%) for anualizada, ela mostrará que o país está avançando a um ritmo de 4,4% do PIB.

- O PIB nos deixa satisfeitos, principalmente em relação ao último trimestre. Quando a economia passa de um ano para outro com crescimento acelerado, ela transmite esse crescimento ao ano seguinte. É uma passagem, influência. Terminamos bem 2006, começamos bem 2007 e tudo indica que poderemos manter esse crescimento até o fim do ano - disse Mantega.

Ele culpou as elevadas taxas de juros e a agricultura pelo crescimento de 2006 abaixo das expectativas. Mas o próprio IBGE informou ontem que os fatores que empurraram para baixo o setor em 2005 (como quebra de safra e febre aftosa) desapareceram em 2006.

- Ano passado, tivemos vários problemas. Por exemplo, a crise agrícola . Também tínhamos taxas maiores de juros do que este ano - disse Mantega.

Mas o ministro destacou que as taxas já estão menores e que o setor agrícola vem mostrando recuperação, o que deve contribuir para uma expansão maior da economia em 2007.

Crítico do BC, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, desta vez baixou o tom das críticas:

- A economia brasileira está sólida e tem condições de planejar um crescimento mais forte para os próximos anos. Mas as condições para isso seriam reduzir mais os juros e ajustar o câmbio.

COLABOROU Geralda Doca