Título: Mantega: tremor está se dissipando
Autor: Eloy, Patricia
Fonte: O Globo, 01/03/2007, Economia, p. 35

Meirelles afirma que mercados mundiais ainda estão em fase de acomodação.

BRASÍLIA. O governo avaliou ontem que é preciso aguardar pelo menos uma semana para ter certeza sobre os rumos do mercado financeiro, mas a tendência é que o terremoto provocado pela queda da Bolsa de Xangai na terça-feira se dissipe, afastando o risco de crise internacional. Ao chegar para a reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), o ministro da Fazenda, Guido Mantega, até brincou:

- A turbulência já está se dissipando, portanto, foi de 1,5 grau na escala Richter (que mede a intensidade de terremotos e vai até 9 graus). É claro que temos de ficar alertas, mas vemos que a economia brasileira está muito sólida.

A opinião foi compartilhada pelo presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles:

- Os mercados mundiais ainda estão em fase de acomodação, e temos de verificar até que ponto isso pode se prolongar um pouco mais ou não. Mas é um movimento normal.

BC: reservas atingem recorde de US$100,3 bi

Para Mantega, mesmo que a instabilidade persista, o Brasil será afetado marginalmente, devido à solidez de seus indicadores, como balança comercial e conta corrente:

- O máximo que poderia acontecer seria a diminuição do nosso superávit, que é muito elevado.

Pela primeira vez, as reservas internacionais do país entraram na casa dos três dígitos, confirmou o BC. A reservas fecharam terça-feira - último dado disponível - em US$100,36 bilhões, uma alta de 17% este ano. Isso significa que o país está fortalecendo seu "colchão" contra crises internacionais.

Para a economista-chefe da Mellon Global Investment, Solange Srour, o solavanco teria sido maior não fossem as reservas acumuladas, de nível compatível com o de outros países em desenvolvimento. Hoje, a relação entre as reservas e a dívida pública no Brasil é de cerca de 10%, contra 13,6% no Chile e 9,35% no México.

Após encontro com Mantega, o representante do Fundo Monetário Internacional (FMI) no Brasil, Max Alier, afirmou que a economia brasileira tem estrutura para enfrentar turbulências, devido às reservas.

No Congresso, a base aliada acreditava que os efeitos da turbulência no país serão limitados. A expectativa é sobre como isso influirá na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, semana que vem. (Cristiane Jungblut, Martha Beck, Eliane Oliveira e Patrícia Duarte)