Título: Sarkozy adverte Brasil sobre política agrícola
Autor:
Fonte: O Globo, 01/03/2007, O Mundo, p. 41

Candidato à Presidência da França quer proteger produtos nacionais apesar de polêmica na OMC

PARIS. O governo brasileiro que se prepare: se Nicolas Sarkozy for eleito presidente da França, em maio -- o que é provável, já que lidera as sondagens -, ele vai defender com unhas e dentes a atual política agrícola européia de subsídios. O Brasil acusa a França de bloquear as negociações na Organização Mundial de Comércio (OMC) para a derrubada de barreiras que impedem maior acesso de produtos agrícolas ao mercado europeu.

Referindo-se diretamente ao Brasil, ontem, numa entrevista coletiva, o ministro do Interior foi categórico:

- Eu vejo a necessidade absoluta da independência alimentar da Europa. A agricultura francesa e a européia são a segunda do mundo. Não estou pronto a ceder em relação à independência alimentar da Europa!

Ministro apóia ampliação de Conselho de Segurança

Agricultura, na França, é um assunto que pode derrubar um político. Isso explica a posição dura de Sarkozy: os agricultores pesam pouco na riqueza do país, mas têm peso político. Sarkozy defendeu a política agrícola européia com os mesmos argumentos que justificaram a criação da Política Agrícola Comum (PAC) no pós-guerra: é um interesse estratégico, questão de segurança. Ele lembrou que a agricultura européia é responsável por 50% do consumo no bloco.

- A agricultura é estratégica para a Europa. Quando vejo a determinação do presidente Bush de defender agricultores americanos, eu me pergunto: em nome de quê devemos abandonar nossos agricultores?

Numa entrevista sobre política internacional, Sarkozy mencionou três vezes o Brasil. Ele disse que o presidente Jacques Chirac "tem razão" de vetar mais liberalização agrícola.

- Entendo que o Brasil, uma grande potência que respeito, queira um lugar para seus produtores. Mas eu também espero que o Brasil assuma seu lugar na luta contra as emissões de gás do efeito estufa, na luta contra as grandes pandemias - disse, frisando que não vê qualquer razão para acabar com a PAC.

Sarkozy defendeu também a idéia lançada por Chirac da criação de uma organização mundial de meio ambiente, à qual o Brasil se opõe. E bateu duro na OMC, que, segundo ele, "tem tendência" a negligenciar o problema ambiental. Ele mencionou ainda o Brasil, assim como Alemanha, Índia e Japão, quando defendeu aumentar o número de cadeiras permanentes no Conselho de Segurança da ONU. Discutiu algumas fórmulas, como criar cadeira permanente sem direito a veto num primeiro momento. Mas disse que os novos membros devem obedecer alguns critérios, como contribuição financeira à ONU e participação em operações de paz.

O candidato de direita disse que a Europa "independente e forte" será uma de suas prioridades, e defendeu a negociação de um "tratado simplificado" para desbloquear o funcionamento das instituições européias. Sarkozy lidera as sondagens, mas a guerra pela Presidência endureceu. O jornal satírico "Canard Enchaîne" publicou uma denúncia segundo a qual o ministro e sua mulher, Cecilia, se beneficiaram de um desconto de 300 mil na compra de um apartamento em 1997, em Neuilly-sur-Seine, onde ele foi prefeito até entrar para o governo, em 2002. Além disso, Sarkozy enfrenta um novo adversário, o candidato centrista François Bayrou, que subiu dois pontos nas pesquisas, atingindo 19%.