Título: Chávez e Fidel criticam uso do etanol
Autor:
Fonte: O Globo, 01/03/2007, O Mundo, p. 41

Com voz mais firme, presidente cubano fala em rádio por mais de meia hora

HAVANA e WASHINGTON. Com a voz mais firme e afirmando que se recupera, o presidente de Cuba, Fidel Castro, endossou as críticas do presidente venezuelano, Hugo Chávez, ao uso do etanol como alternativa aos combustíveis fósseis. Castro, afastado do poder desde agosto do ano passado, conversou com Chávez, na terça-feira, no programa de rádio do presidente venezuelano.

- A idéia de plantar alimentos para produzir combustível é trágica, é dramática. Por isso, felicito o presidente Chávez por criticar o etanol como combustível alternativo ao petróleo, principalmente por causa do impacto que isso pode ter sobre o preço dos alimentos - disse Fidel, ao ser indagado por Chávez sobre o que achava do etanol.

A produção do etanol é uma das grandes alternativas apresentadas pelo Brasil para a questão energética e será alvo de acordo de cooperação entre Washington e Brasília. A Venezuela, no entanto, que tem uma das maiores reservas de petróleo do mundo, tem feito campanhas sistemáticas contra o uso do combustível. Os canais de TV controlados pelo governo exibem programas sobre o tema, afirmando que a produção do etanol pode produzir um grande impacto no preço da cana-de-açúcar e do milho, afetando principalmente as classes mais pobres.

- Agradeço a Fidel por dar sua importante opinião sobre o etanol. É preciso esclarecer o quanto a substituição do petróleo por esse combustível pode ser ruim, principalmente para a população mais pobre - disse Chávez.

Essa foi a primeira vez que o presidente cubano, de 80 anos, falou ao vivo desde sua última aparição pública em 26 de julho de 2006, cinco dias antes de transferir temporariamente o poder ao seu irmão Raúl Castro. A conversa durou pouco mais de meia hora.

- Voltei a ser um estudante - disse Fidel, rindo, se referindo ao tempo livre que tem agora.

No diálogo, o líder cubano parecia articulado e comentou a forte queda registrada na Bolsa de Valores de Nova York, na terça-feira, criticou o presidente americano, George W. Bush, e falou vários minutos sobre o aquecimento global.

- Peço paciência e calma, que todos estejam tranqüilos. O país marcha, que é o importante, e peço também tranqüilidade em relação a mim, para poder cumprir minhas novas tarefas - disse.

Um dia depois da conversa entre Chávez e Fidel, o Congresso dos Estados Unidos divulgou que estuda uma suavização do embargo imposto a Cuba há 45 anos. Os parlamentares discutem dois projetos de lei: um para eliminar as restrições de viagens à ilha e outro para facilitar a venda de alimentos.

- Existe no Congresso um grupo pequeno que lidera os esforços diante de um sentimento de que o embargo fracassou. Para termos influência com os líderes futuros, seja Raúl Castro ou outro, a melhor forma não é rezar para que o regime caia, e sim estabelecer contatos - disse Daniel Eriksson, analista do centro de estudos Diálogo Interamericano.

Mesmo se forem aprovados, os projetos precisam ser sancionados pelo presidente George W. Bush.