Título: Grupo cobra paradeiro de detidos em prisões da CIA
Autor: Sengupta, Kim e Cockbum, Patrick
Fonte: O Globo, 01/03/2007, O Mundo, p. 40

Destino de 38 suspeitos de terrorismo que seriam mantidos em centros secretos é desconhecido

WASHINGTON. Trinta e oito pessoas que se acreditava que estivessem detidas nas prisões secretas da CIA (a agência central de inteligência americana) estão desaparecidas, afirma um relatório da Human Rights Watch (HRW). A organização, que defende os direitos humanos, relata ainda no informe a tortura de um suspeito de terrorismo, que ficou preso clandestinamente por dois anos, e pede que os Estados Unidos expliquem o que aconteceu com os desaparecidos.

A HRW quer que os EUA revelem os locais de todos os centros de detenção secretos, assim como os nomes de todos os que passaram por essas prisões, que segundo o presidente George W. Bush teriam sido fechadas no ano passado. Segundo o ¿Washington Post¿, mais de 60 pessoas passaram pelos centros desde 2001.

¿Como o senhor deve saber, o programa de detenção da CIA tem causado um grande dano à reputação, moral e integridade dos Estados Unidos. Ao revelar o destino e o paradeiro de pessoas que ficaram sob custódia da CIA, poderia reparar o dano que esse programa abusivo causou¿, escreveu a organização em carta a Bush.

Em setembro do ano passado, Bush admitiu a existência de um programa de detenção secreto da CIA e disse que 14 pessoas estavam presas. Ele reconheceu o uso de métodos de interrogatório ¿duros¿, porém ¿dentro da lei e necessários¿, e disse que os presos estavam sendo transferidos para a Base de Guantánamo, em Cuba.

Mas, no relatório, a HRW identifica 38 pessoas que se acreditava que estivessem nas prisões da CIA e que não fazem parte da lista de Guantánamo. A organização acha que podem ter sido transferidas para prisões estrangeiras, mas ainda sob controle da CIA, ou para a custódia de outros países ¿onde a tortura contra suspeitos é comum¿.

¿ A prática de fazer pessoas desaparecerem, mantendo-as em detenção secreta sem processo legal, é ilegal sob a lei internacional ¿ disse Joanne Mariner, diretora do programa para terrorismo da HRW, em Nova York.

Despido e acorrentado em prisão paquistanesa

Um dos detidos foi o palestino Marwan al-Jabour. Acusado de ser tesoureiro da al-Qaeda, ele foi preso em Lahore, no Paquistão, em maio de 2004, e passou também por uma prisão afegã. Ele contou que várias vezes, quando estava em poder de paquistaneses, foi despido e acorrentado ao teto, queimado, espancado e algemado em posições desconfortáveis. Durante os 28 meses de prisão, foi interrogado por agentes americanos por horas, mas contou só ter sido torturado quando estes não estavam presentes.

Jabour relatou ao ¿Washington Post¿ que em seu último dia preso foi despido, sentado numa cadeira e filmado. Após ser algemado e vendado, foi drogado antes de ser colocado numa van e liberado de uma prisão no Afeganistão, em junho de 2006.

Além de atritos com grupos de direitos humanos, as prisões e os vôos secretos da CIA têm gerado também problemas com a Europa. Os EUA advertiram a União Européia de que as investigações sobre os vôos com prisioneiros ameaçam os laços dos serviços de inteligência dos dois lados do Atlântico. Além disso, John Bellinger, consultor jurídico do Departamento de Estado, informou que os EUA vão rejeitar qualquer pedido para extraditar agentes da CIA feito pela Itália, devido à captura de um suspeito no país. Segundo Bellinger, há cem presos em Guantánamo prontos para sair, mas nenhuma nação quer aceitá-los:

¿ Os europeus não podem pedir o fim de Guantánamo sem oferecer um lugar para enviar os presos.