Título: O efeito Iraque
Autor: Sengupta, Kim e Cockbum, Patrick
Fonte: O Globo, 01/03/2007, O Mundo, p. 40

Relatório contradiz Bush e culpa guerra pelo aumento da violência fundamentalística no mundo.

Inocentes ao redor do mundo estão pagando o preço pelo ¿efeito Iraque¿, com a perda de centenas de vidas diretamente ligada à invasão e ocupação do país por forças americanas e britânicas.

Um estudo sobre ataques terroristas após a invasão, em 2003, contradiz as repetidas negativas de George W. Bush e Tony Blair de que a guerra não é culpada pelo aumento da violência fundamentalista no mundo. A pesquisa ¿ apresentada como a primeira a tentar medir o ¿efeito Iraque¿ sobre o terrorismo global ¿ revela que o número de mortos em ataques de radicais islâmicos aumentou dramaticamente desde que a guerra começou, em março de 2003.

O estudo comparou o período entre 11 de setembro de 2001 e 20 de março de 2003 (invasão do Iraque) e dessa data a 30 de setembro de 2006. A conta ¿ excluindo o conflito árabe-israelense ¿ mostra que o número de mortes relacionadas ao terror aumentou de 729 para 5.420. Assim como atentados na Europa, os ataques aumentaram também na Chechênia e na região da Cachemira. A pesquisa foi realizada pelo Centro sobre Lei e Segurança da New York University Foundation para a revista ¿Mother Jones¿.

O Iraque foi o catalisador para um feroz retrocesso fundamentalista, segundo o estudo, que afirma que as mortes por radicais islâmicos dentro do país subiram de sete para 3.122. O Afeganistão, invadido por forças americanas e britânicas em resposta ao 11 de Setembro, viu um aumento de uns poucos casos, em 2003, para 802. No conflito da Chechênia, o número passou de 234 para 497. Na região da Cachemira, tanto na Índia como no Paquistão, o total subiu de 182 para 489, e na Europa foi de zero para 297.

Conflito dissemina `vírus ideológico¿

Dois anos após declarar ¿missão cumprida¿ no Iraque, o presidente Bush insiste que, se os EUA não estivessem combatendo no Iraque, seus inimigos estariam ¿matando americanos ao redor do mundo e dentro das fronteiras¿ de seu próprio país. Blair também afirma que a guerra não é responsável por ataques de fundamentalistas islâmicos, como o de 7 de Julho, em Londres, que matou 52 pessoas. Ao anunciar o envio de mais 1.400 soldados ao Afeganistão, o primeiro-ministro britânico negou a acusação de parlamentares de que havia uma ligação entre a guerra no Iraque e a desintegração da segurança em outros locais. No mês passado, John Negroponte, então diretor de Inteligência Nacional (atual subsecretário de Estado dos EUA), disse não estar certo de que a guerra fosse um fator a estimular o recrutamento pela al-Qaeda.

No entanto, o relatório destaca que a própria Estimativa da Inteligência Nacional sobre ¿Tendências em terrorismo global: Implicações para os Estados Unidos¿ afirma que ¿a guerra no Iraque se tornou `a causa célebre¿ para radicais islâmicos... e está moldando uma nova geração de líderes terroristas e combatentes¿. O novo estudo, realizado por Peter Bergen e Paul Cruickshank, argumenta que, ao contrário, ¿o conflito no Iraque aumentou a disseminação do vírus ideológico da al-Qaeda, como mostrado por um número crescente de ataques terroristas nos últimos três anos de Londres a Cabul, de Madri ao Mar Vermelho¿.

¿Nosso estudo mostra que a guerra no Iraque tem gerado um aumento impressionante na taxa anual de ataques terroristas de radicais islâmicos e de morte de civis. Mesmo quando o terrorismo em Iraque e Afeganistão são excluídos, os ataques fatais no restante do mundo cresceram em mais de um terço¿, escreveram os autores.

A afirmação de que a guerra teve um impacto maior na radicalização de muçulmanos é confirmada por funcionários da segurança britânica. Eliza Manningham-Buller, chefe do Serviço Secreto (MI5), disse:

¿ Vemos os resultados aqui. Adolescentes são preparados para serem homens-bomba. A ameaça é séria, está crescendo e, acredito, ficará conosco por uma geração.