Título: Congresso critica política de Bush na AL
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 02/03/2007, O País, p. 4

Parlamentares americanos elogiam, porém, viagem do presidente

WASHINGTON. Uma audiência no Congresso dos Estados Unidos, ontem, deixou mais claro que a visita do presidente George W. Bush ao Brasil e mais quatro países latino-americanos - Uruguai, Colômbia, Guatemala e México -, nas próximas duas semanas, será o início de um esforço para conter os avanços do presidente Hugo Chávez, da Venezuela, na região.

Em depoimento à Comissão de Relações Exteriores da Câmara, o secretário de Estado assistente para o Hemisfério Ocidental, Thomas Shannon, disse que está havendo "competição entre diferentes visões pela influência nas Américas". De um lado a dos EUA, que, segundo ele, ajudou a transformar regimes autoritários em governos democráticos, e economias fechadas em abertas aos mercados globais. De outro, uma tentativa de volta ao passado:

- A visão competidora dá ouvidos a modelos de desenvolvimento anteriores nas Américas, e se baseia em economias centralizadas, com base em mercadorias, sob liderança política autoritária e declarando que as demandas por justiça social e as intenções da maioria prevalecem sobre os direitos e as liberdades individuais - disse.

Embora Shannon tenha evitado citar a Venezuela e Chávez, os parlamentares logo entenderam o raciocínio. E não deixaram por menos: aplaudiram a iniciativa de Bush de visitar a região, mas insistiram para que ele faça algo de concreto, e não só discursos e manifestação de intenções.

- Não temos dado atenção suficiente à América Latina, e, se não fizermos algo para aliviar a pobreza na região, pessoas como Chávez vão tirar proveito dessa situação - disse o deputado republicano Dan Burton.

Shannon reconheceu que a região tem "demandas legítimas", pois as políticas macroeconômicas, a democracia e os mercados livres ainda não deram os frutos esperados, "gerando impaciência e frustrações". E admitiu:

- Nosso desafio é o de ver como encarar a pobreza, a desigualdade e a exclusão social. Não devemos subestimar a volatilidade criada pelo crescente ressentimento social e o amargor entre os setores mais pobres. (J.M.P.)