Título: Governo dos EUA pede ao Brasil lei para combater o terrorismo
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 02/03/2007, O País, p. 4

Documento diz que drogas financiam compra de armas

Para Departamento de Estado americano, país é corredor para narcotráfico

José Meirelles Passos

WASHINGTON. Apesar de reconhecer que a lavagem de dinheiro no Brasil já foi reduzida a um nível abaixo da média registrada em toda a América Latina, o governo dos Estados Unidos voltou a insistir ontem para que o governo brasileiro aprove uma lei antiterrorismo que preveja a criminalização do financiamento ao terrorismo.

"A aprovação de uma legislação desse tipo resolveria uma debilidade fundamental no regime legislativo brasileiro para conter a lavagem de dinheiro e as finanças do terrorismo", diz um trecho do "Informe sobre a Estratégia de Controle Internacional de Narcóticos ? 2007", divulgado pelo Departamento de Estado americano.

O documento lembra que esse tipo de financiamento não é tido como "um crime autônomo" no Brasil. E sugere que, por esse motivo, nenhum indiciamento de suspeitos de lavagem de dinheiro do terrorismo foi feito no país até hoje. "O governo dos EUA acredita que a área da Tríplice Fronteira (Brasil-Argentina-Paraguai) é uma fonte de financiamento do terrorismo, embora o governo do Brasil insista em que não tem visto nenhuma prova disso", diz outro trecho do informe.

Êxito em investigações sobre lavagem de dinheiro

Terrorismo à parte, o governo americano destaca que houve um crescimento substancial de exitosas investigações de lavagem de dinheiro no Brasil nos últimos anos. Entre 2000 e 2002, a média foi de 40, mas nos nove primeiros meses de 2006 (registro mais recente) aconteceram 625. As condenações subiram de 172 em 2003 para 866 em 2006.

O Brasil é também mencionado no informe como um grande corredor para drogas ilícitas, assim como consumidor. O documento diz que há duas categorias de narcotráfico: cocaína da Bolívia e maconha do Paraguai são contrabandeadas para consumo interno no Brasil; enquanto cocaína de maior qualidade, além de heroína, saem da Colômbia para o Brasil, de onde são embarcadas para a Europa, o Oriente Médio e a África, em navios ancorados em portos do Nordeste brasileiro.

"Grupos organizados baseados em São Paulo e Rio de Janeiro cuidam do transporte das drogas através de contatos nas fronteiras. Elas são adquiridas de organizações criminosas que operam fora o território do Brasil. Os lucros das vendas de narcóticos são usados para a compra de armas e o fortalecimento do controle daqueles grupos nas favelas do Rio e de São Paulo", diz o informe americano.