Título: Mantega diz que câmbio defasado tira o sono da equipe econômica
Autor: Eloy, Patricia e Scofield Jr., Gilberto
Fonte: O Globo, 02/03/2007, Economia, p. 22

Ministro revê sua avaliação e admite que PIB de 2006 foi modesto.

CURITIBA. Um dia depois de dizer que estava satisfeito com o PIB de 2006, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, admitiu ontem que o resultado foi "modesto" e acrescentou que um dos problemas para que a indústria de transformação (grande empregadora de mão-de-obra) aumente sua atividade é o câmbio defasado. Segundo o ministro, o câmbio "tira o sono da equipe econômica".

- O câmbio é um problema mais difícil de equacionar, que tira o sono da equipe econômica, mas é o preço de termos uma economia estável - afirmou ele, durante encontro com empresários em Curitiba.

Mantega, porém, voltou a descartar mudanças no sistema flutuante do câmbio ou "artificialismos".

- Vamos usar instrumentos com cuidado, mas sem artificialismos como fez a China - disse ele, que estava acompanhado dos também ministros Paulo Bernardo (Planejamento) e Tarso Genro (Relações Institucionais).

Ministro prevê dez dias de crise nos mercados

Sobre o resultado do PIB, o ministro da Fazenda destacou que já existem sinais de recuperação da economia:

- Embora tenhamos tido um resultado modesto de crescimento do PIB no ano passado, o crescimento está em curso e é preciso que seja estimulado.

A expectativa do ministro da Fazenda para este ano é manter o mesmo ritmo do último trimestre de 2006, quando o PIB cresceu 4,5% em valores anualizados, mas a meta de 5% só deve ser atingida em 2008.

Ao ser perguntado sobre a turbulência no mercado financeiro que teve origem na China, Mantega respondeu que o país tem reservas suficientes para enfrentar crises.

- Se a instabilidade tivesse ocorrido no passado, o Brasil já teria sido afetado e se um processo de crescimento estivesse em curso seria abortado. Superamos essa fase. O volume de US$100 bilhões é um fato inédito e isso nos dá cacife para enfrentar a turbulência internacional - garantiu ele, prevendo cerca de dez dias para a crise se dissipar.

Os empresários também cobraram do governo a redução da carga tributária para que o PAC saia do papel. Para simplificar os tributos, Mantega se comprometeu a realizar medidas de desoneração tributária, mas não na rapidez esperada pelo empresariado.

- A carga de impostos aumentou muito no Brasil nas últimas décadas e se tornou uma desvantagem, mas a queda não pode ser feita rapidamente, para não colocar em risco a estabilidade - afirmou.

Para este ano, o governo deve abrir mão de R$6,6 bilhões em isenções de impostos para setores de infra-estrutura e outros setores, como semicondutores, TV digital e microcomputadores.