Título: Aumento de importações afeta balança no ano
Autor: Oliveira, Eliane e Ribeiro, Fabiano
Fonte: O Globo, 02/03/2007, Economia, p. 23

Real forte afeta setores estratégicos, como o moveleiro, o calçadista e o de têxteis e confecções

Superávit caiu 4,4% no 1º bimestre. Compras externas cresceram dez pontos percentuais acima das exportações

Eliane Oliveira e Fabiana Ribeiro

BRASÍLIA e RIO. O freio que as importações representaram à expansão do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de todas as riquezas do país) em 2006 - quando o setor externo recuou 1,4% devido ao crescimento de dois dígitos das compras - pode se repetir este ano. Encerrados os dois primeiros meses de 2007, as importações cresceram dez pontos percentuais acima das exportações, ou 26,6% contra 16,9%. Com isso, o superávit comercial no primeiro bimestre caiu 4,47%: US$5,369 bilhões, contra os US$5,620 bilhões de igual período do ano anterior.

Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, enquanto nos dois primeiros meses de 2006 as importações somaram US$12,401 bilhões, no primeiro bimestre de 2007 as compras externas bateram o recorde de US$15,696 bilhões. Já as exportações subiram de US$18,021 bilhões, no ano passado, para US$21,065 bilhões, também o maior valor já registrado no período. Em fevereiro, as vendas no exterior atingiram US$10,104 bilhões e os gastos no exterior, US$7,226 bilhões, com um saldo positivo de US$2,878 bilhões.

Exportações: ritmo menor deve se manter este ano

Para o secretário de Comércio Exterior, Armando Meziat, ao contrário do que afirmam alguns analistas, o comércio exterior brasileiro não causará impactos negativos no PIB em 2007. Meziat afirmou que o aumento das importações é benéfico para a economia brasileira: com o barateamento das compras externas, é possível estimular investimentos.

- Pelo menos 70% das importações brasileiras estão voltadas para a indústria. Do total importado, 20% são bens de capital e 70% são matérias-primas e produtos intermediários.

Do lado das exportações, apesar do câmbio, o país aumenta a quantidade exportada. Segundo Meziat, em volume, as vendas externas cresceram, em janeiro de 2007, 7,4% e, em valor, 10,3%. No mesmo período de 2006, houve alta de 3,3% no volume e de 12,5% em valor. O secretário admitiu que o real valorizado frente ao dólar afeta setores estratégicos, como o moveleiro, o calçadista e o de têxteis e confecções:

- Com a redução do superávit, haverá uma recuperação na taxa de câmbio. Enquanto a exportação aumenta o ingresso de dólares no país, com a importação ocorre o contrário, reduzindo a quantidade da moeda estrangeira.

Meziat reconheceu que, ainda por causa do real valorizado, as importações de bens de consumo sobem de forma significativa. No mês passado, houve um aumento de 36,6% em relação a fevereiro de 2006.

Na avaliação de Fernando Ribeiro, economista da Fundação de Comércio Exterior (Funcex), a trajetória das exportações está definida: o crescimento menor das exportações deve se manter este ano, em especial no setor de manufaturados.

- Não há o que fazer a curto prazo para mudar isso. Mas o superávit do país deve fechar acima dos US$40 bi.

Comércio pode sofrer com desaceleração de China e EUA

Para Cecília Hoff, economista do Grupo de Conjuntura da UFRJ, uma política de queda de juros mais forte ajudaria a dar fôlego às exportações. Sua expectativa é de que o BC faça um corte de 0,25 ponto percentual na Selic, mas outros fatores pesam nas exportações:

- Se a China adotar medidas para desacelerar a economia e se a economia americana entrar em recessão, as exportações brasileiras podem crescer menos.

Segundo o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), os números de 2007 indicam que o desempenho comercial brasileiro este ano não será mais favorável do que em 2006. Mas, para a entidade, "não há indicação segura de que esse desempenho será significativamente pior".