Título: Países pobres têm até 50% de remédios falsos
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Fonte: O Globo, 02/03/2007, O Mundo, p. 29

Relatório da ONU diz que medicamentos circulam livremente em feiras, farmácias clandestinas e pela internet.

VIENA. Entre 25% a 50% dos medicamentos que circulam nos países em desenvolvimento são falsos ou ilegais. A informação foi divulgada ontem num relatório da Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes (Jife), órgão independente que trabalha para o Escritório contra Drogas e o Crime, da ONU, e é baseada em dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). O problema, no entanto, também afeta Europa e Estados Unidos. Segundo o estudo, um em cada dez remédios que circulam no mundo é falsificado.

Antibióticos são os mais falsificados

De acordo com o documento, os medicamentos circulam livremente em feiras de países pobres, são vendidos por ambulantes, farmácias clandestinas e também pela internet.

- A venda de medicamentos falsos é um mal que pode matar milhares de pessoas e é uma prática que fere os tratados internacionais para a fiscalização dos remédios. Os consumidores precisam estar muito atentos, principalmente nos países em desenvolvimento, e os governos necessitam tomar providências para diminuir esse número alarmante - disse o presidente da Jife, Philip O. Emato.

De qualidade inferior, muitas vezes de eficácia nula e sem qualquer controle sanitário, os remédios ilegais já fizeram milhares de vítimas em todo o mundo. Xaropes causaram a morte de centenas de crianças em Bangladesh, Índia e Nigéria durante os anos 90. Na África, o uso de vacinas falsas provocou a morte de 2.500 crianças em vários países em 1995. Em 2005 e 2006, centenas de pessoas morreram na China por causa de medicamentos veterinários recondicionados ilegalmente para o uso humano.

Das notificações de falsificações recebidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a partir 1982, mais de 50% são de países da costa oeste do Pacífico e, em 51% dos casos, estão relacionadas a antibióticos. Anfetaminas, meta-anfetaminas e vacinas também são alvos freqüentes de falsificações. Dos doze principais medicamentos contra a malária usados no mundo, oito já teriam sido objeto de falsificações, segundo a Jife.

- O que vemos hoje é um rápido retrocesso nos trabalhos de fiscalização. Estamos em situação pior que há 40 anos - disse Emato.

Além dos produtos falsificados, a venda ilegal de medicamentos que só podem ser comercializados com receita médica preocupa os especialistas. A alta demanda por esse tipo de remédio criou, segundo a Jife, uma rede de tráfico mundial. O Camboja é apontado como um dos principais pontos de receptação desses medicamentos, quando fabricados na Ásia, e de envio para o resto do mundo. Na América do Sul, Bolívia e Peru são os principais receptadores.

- A demanda por medicamentos que exigem receita é tão alta que esse se tornou um dos tipos de tráfico mais lucrativos. Esse é um problema que rapidamente será maior que o dos remédios falsificados - disse o presidente da Jife.

O relatório defende um plano de ação global e pragmática, ligando organizações governamentais, funcionários da saúde, da indústria farmacêutica e sociedade civil, além da OMS. Os pesquisadores consideram urgente também dar ajuda aos países que não possuem regulamentações ou capacidade de controle farmacêutico adequado.