Título: Reforma política pode começar do zero
Autor: Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 03/03/2007, O País, p. 4

Novatos têm direito de mexer em texto já aprovado, diz presidente da Câmara

Isabel Braga

BRASÍLIA. Depois de anunciar, há uma semana, a inclusão da reforma política na pauta de votações, surpreendendo até líderes partidários, o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), recuou. Sob o argumento de que os 244 deputados novatos têm o direito de contribuir com o texto, aprovado na legislatura passada, Chinaglia admitiu reiniciar o debate, o que significa retomar a discussão da estaca zero. Mas Chinaglia diz querer votá-la até o fim deste semestre na Câmara.

- Vamos aproveitar o que foi produzido, mas não vejo mal em abrir a possibilidade para o aperfeiçoamento. Pode haver até uma nova comissão especial ou um trâmite através das comissões - disse Chinaglia, ontem, após receber a proposta de reforma política da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

Os líderes vão decidir o que fazer com a reforma na próxima semana. A idéia de reabrir o debate foi sugerida pelo líder do PDT, Miro Teixeira (RJ). Além dos novatos, Miro argumenta que é preciso dar espaço para sugestões da sociedade, como as propostas entregues ontem pela OAB:

- Devemos ter as regras para 2008 até setembro, não acho que o prazo é exíguo.

Relator do projeto de reforma política incluído na pauta, Ronaldo Caiado (PFL-GO) criticou:

- Conheço bem essa novela. Chinaglia pautou, deu credibilidade à pauta, fez a sociedade se movimentar e agora recua? O cheiro de pizza está forte.

O líder do PSDB, Antonio Pannunzio (SP), concorda que não é preciso nova tramitação, mas defende o prazo de um mês para a retomada das votações e o debate com o Senado. A reforma tramita há mais de dez anos.

- A dificuldade real é que cada partido chegou onde chegou com as regras atuais. Quando você fala em mudar tudo isso, naturalmente gera insegurança - admitiu Chinaglia.