Título: Mercado: projeções para o Copom não mudam
Autor: Eloy, Patricia e Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 03/03/2007, Economia, p. 29

Especulações sobre eventuais mudanças de política monetária agitaram operações na BM&F.

Analistas estimam um corte de 0,25 ponto percentual para a Selic. Se confirmado, o juro cairá para 12,75%.

RIO e BRASÍLIA. A saída do diretor de Política Econômica do Banco Central (BC), Afonso Bevilaqua, não muda as expectativas do mercado em relação à reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) na semana que vem. Bevilaqua, inclusive, participará da reunião. Os economistas projetam um corte de juros de 0,25 ponto percentual, o que levaria a taxa básica, a Selic, para 12,75% ao ano. Mas especulações sobre eventuais mudanças de política monetária agitaram as operações com os contratos negociados na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F). Os contratos de mais curto prazo, com vencimento até o início do ano que vem, passaram a indicar um maior corte de juros. Segundo analistas, no entanto, houve exagero nessas operações.

Nos contratos com vencimento em janeiro de 2008, os juros caíram de 12,16% para 12,11% ao ano. A longo prazo, porém, as projeções subiram: nos contratos para janeiro de 2009, os mais negociados, as taxas avançaram de 12,06% para 12,09% ao ano.

Para Tomás Málaga, economista-chefe do Banco Itaú, a dança de cadeiras no BC não terá efeitos sobre a política monetária vigente:

- A linha conservadora do BC, como a de todos os outros bancos centrais do mundo, fica inalterada e é independente deste ou daquele diretor.

José Alfredo Lamy, sócio da Cenário Investimentos, concorda. Ele espera juros de 12,75% na semana que vem:

- A política monetária eficaz é o bastião da gestão Lula, e, por isso, não acredito que haja descontinuidade. Os juros cairão 0,25 ponto.

Projeto prevê quatro anos para presidente do BC

Se, para o mercado, nada muda, para a oposição, a demissão foi mais um exemplo de ingerência política nas questões internas da instituição e deve reacender no Congresso o debate sobre a autonomia do BC.

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), acredita que a saída de Bevilaqua mostra que venceram os consultores do presidente Lula, como os ministros Dilma Rousseff (Casa Civil) e Tarso Genro (Relações Institucionais), que defendem mudanças na política econômica, com a aceleração da queda das taxas de juros.

- O bom senso manda ser conservador neste momento. Se forem brincar de populismo monetário, vão quebrar a cara.

O vice-líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ), está reapresentando projeto em que o mandato do presidente do BC seria de quatro anos, com direito a uma recondução, e os mandatos dos diretores chegariam a seis anos. Já o líder da minoria na Câmara, Júlio Redecker (PSDB-RS), disse que é favorável à autonomia do BC, e que a saída de Bevilaqua fortalece o presidente do BC, Henrique Meirelles, já que se mexeu "no acessório".