Título: O binômio
Autor: Cruvinel, Tereza
Fonte: O Globo, 04/03/2007, O Globo, p. 2

Um presidente e 27 governadores não se reúnem para tirar fotografia. Se a reunião de terça-feira entre eles der em nada, pior para todos. Grandes urgências nacionais, como segurança e educação, dependem fundamentalmente de uma efetiva soma de esforços entre a União e os estados.

Mas, como as agendas estão cruzadas, caberá sobretudo ao anfitrião evitar que o encontro fracasse, terminando em fotografia na parede. Na quinta-feira, Lula disse que vai propor a eles uma aliança em torno dos problemas de segurança e educação. Este é o binômio que desafia o país. Segundo o próprio Lula, uma pesquisa recente, feita para o Núcleo de Assuntos Estratégicos (NAE) do governo, constatou que a maior demanda das famílias ouvidas é a melhora da qualidade do ensino. Viria antes mesmo da questão da segurança. Mas os entrevistados disseram também não acreditar que isso possa acontecer no curto prazo. Amanhã, o ministro da Educação, Fernando Haddad, vai lhe apresentar o esboço de 42 medidas para requalificar o ensino. Uma delas é condicionar a liberação de recursos do FNDE ao cumprimento de metas pelos municípios. Metas que incluem o treinamento de professores e a melhora da avaliação dos alunos.

Lula quer ainda uma parceria com os governadores para implantar políticas para a juventude, programas destinados a evitar que jovens em situação de risco caiam no desvão da criminalidade. Disse isso ao governador José Serra na sexta-feira. Serra cogitou de não ir ao encontro por causa de uma missa pela passagem da morte de Mario Covas, mas acabou dizendo a Lula que irá.

Na outra frente tucana, o governador Aécio Neves, que já foi um dos mais próximos de Lula, é o que vai mais desconfiado para a reunião.

- Tudo bem, vamos tratar disso. Se o governo federal tiver propostas, vamos somar forças. Mas se ele nos apresentar como pratos prontos uma reforma tributária, a conversa vai empacar. Ele quis falar de PAC, nós apresentamos os pleitos dos estados para que possamos aumentar nossa capacidade de investimento. A conversa tem que começar por eles.

Esses pleitos incluem a cessão, aos estados, de nacos de receitas federais (CPMF, Cide, Cofins etc) e outras facilidades. Lula vai com uma reforma tributária na pasta. Mas um governador de seu próprio partido, o petista Jaques Wagner (BA), também não quer saber dela:

- Nós já sabemos que a partilha de recursos nos divide. Devíamos nos concentrar em assuntos de interesse nacional e geral, como educação e segurança. A sociedade cobra respostas nessas áreas, tanto de nós como do governo federal. E podemos também tratar da reforma política, que está na sua hora.

Mas, desse último ponto, Lula também não quer saber. Os fotógrafos vão trabalhar.

Há medidas no forno para socorrer setores econômicos afetados pelo dólar barato e pela competição dos importados. Talvez um aumento da alíquota de importação para os mais sensíveis.