Título: Nervos à flor da pele
Autor: Camarotti, Gerson e Carvalho, Jaílton de
Fonte: O Globo, 04/03/2007, O País, p. 3

Ministros arrumam as malas, e indicados controlam a ansiedade.

BRASÍLIA. Da mesma forma que ministros que vão sair estão angustiados e querem logo resolver sua vida, lá fora, nomes já tidos como certos para o novo Ministério de Lula vivem a síndrome pré-reforma e não escondem o desejo de entrar oficialmente para o time da Esplanada. Além de interferir no funcionamento do governo, a indefinição do presidente Lula tem levado muitos a adiarem planos, cancelarem férias, viagens, providências familiares. Estão de plantão em Brasília esperando o anúncio.

- Já levei minhas roupas para São Paulo, mas... - disse Márcio Thomaz Bastos, da Justiça, numa das muitas vezes em que foi perguntado sobre quando sai.

Mesmo com as gavetas esvaziadas, os pertences pessoais e livros encaixotados no gabinete, Thomaz Bastos está levando algumas peças de seu guarda-roupa de volta ao hotel onde mora em Brasília. Desde que anunciou a saída do governo, a agenda do ministro da Justiça se esvaziou rapidamente. Até então, um dos ministros mais atuantes e solicitados, ele tem passado os dias em despachos internos com auxiliares desmotivados.

O deputado Walter Pinheiro (PT-BA), indicado pelo PT para o Ministério do Desenvolvimento Agrário, já se prepara para assumir o posto, mas reclama que não agüenta mais ser chamado de ministro sem ser.

- Todo dia preparo a resposta que terei de dar o dia inteiro. Estou igual papagaio de uma nota só, fico repetindo: depende de Lula, depende de Lula!

Outro baiano anda nervoso. O deputado Geddel Viera Lima (PMDB-BA), indicado para o Ministério da Integração Nacional, decidiu mergulhar, fugindo ao seu estilo. Nunca esteve tão mudo, e quase não tem aparecido no gabinete. Tem se dedicado às articulações pela reeleição do presidente Michel Temer no partido, para manter a força de seu grupo. Está uma pilha de nervos:

- Todo mundo fica fazendo piada, me chamando de ministro sem ter sido, e perguntando: "Isso não sai nunca?"

Mas há uma turma que prefere levar na brincadeira. Caso do líder do governo em exercício na Câmara, Beto Albuquerque (PSB-RS), e seu sucessor já escolhido, José Múcio Monteiro (PTB-PE):

- Isso terá de ser resolvido num paredão do BBB - brinca Beto Albuquerque.