Título: Bush deve pedir a Lula atuação pela democracia
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 04/03/2007, O País, p. 10

Viagem ao continente tenta recuperar tempo perdido, diz professor

BRASÍLIA. O Brasil é uma das cinco nações latino-americanas que o presidente George W. Bush visitará esta semana. Também estão no roteiro Uruguai, Colômbia, México e Guatemala. Mas, para governo e especialistas brasileiros, Bush vê no país um contrapeso para a influência do venezuelano Hugo Chávez na região e deve repetir a Lula o pedido que fez no final de 2005, quando esteve em Brasília, para que o Brasil exerça um papel mais atuante na defesa da democracia no continente.

- A visita de Bush mostra um certo despertar dos Estados Unidos para a América Latina, que querem recuperar o tempo perdido - afirma o especialista em América Latina e professor de Ciências Políticas da Universidade de Brasília José Alves Donizete.

Ele está convencido de que a esquerdização política na região, que culminou com o socialismo do século XXI propagado por Chávez, pode ser explicada, em grande parte, pelo desinteresse dos americanos, voltados quase que exclusivamente para o Oriente Médio. O próprio presidente Lula afirmou na última sexta-feira, durante um café da manhã com jornalistas, que os EUA cometeram o erro de voltar as costas para a América Latina.

- A questão do etanol vem em boa hora. Indiretamente, os EUA acabam atingindo Chávez, principal fornecedor de petróleo ao mercado americano - destaca Donizete.

- Chávez tem conseguido criar novas interlocuções nas relações internacionais. Veja as armas que tem comprado da Rússia e a defesa que ele vem fazendo abertamente do programa nuclear do Irã - acrescenta o especialista.

Chávez terá encontro com Kirchner no mesmo dia

Fontes graduadas da diplomacia brasileira dizem que, apesar das boas perspectivas quanto às relações Brasil-EUA, Lula não está disposto a fazer o jogo dos americanos. O presidente brasileiro, que se reunirá novamente com Bush no próximo dia 31 em Camp David, não cederá em temas como a fiscalização da Tríplice Fronteira, mudanças na lei de patentes e na retomada das conversas para a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), idéia sepultada há praticamente quatro anos.

Quanto a Chávez, que no mesmo dia do encontro entre Lula e Bush estará em Buenos Aires ao lado do presidente argentino Néstor Kirchner - um dos mais enfáticos aliados do venezuelano - o Itamaraty vem adotando uma receita tradicional para relacionamentos difíceis:

- A melhor maneira de lidar com Chávez é não dar pretextos para que ele adote posturas radicalizadas - afirma uma fonte do Itamaraty.