Título: Energia divide continente e aproxima Brasil e EUA
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 04/03/2007, O País, p. 10

VISITA AMERICANA: Para obter vantagens, governo procura ignorar as desconfianças dos vizinhos sul-americanos

Com a parceria sobre etanol, Itamaraty aposta no apoio americano para a reforma da ONU e negociações na OMC

Eliane Oliveira

BRASÍLIA. Ponto de atrito entre os países da América do Sul - especialmente após o processo de nacionalização das reservas de gás e petróleo na Bolívia e da mudança dos contratos na Venezuela - a energia passou a ser um dos principais temas da política externa brasileira e já traz como fruto o fortalecimento das relações entre Brasil e EUA. O tema ganhou tanta importância que o aumento da produção de etanol e outros combustíveis renováveis dominará a agenda do encontro dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e George W. Bush, na próxima sexta-feira, em São Paulo.

Na avaliação do governo brasileiro, essa parceria é o começo de uma série de vantagens que o Brasil quer tirar da reaproximação com os EUA e do esforço da Casa Branca em evitar que Bush deixe como legado a guerra do Iraque. Por isso, o Itamaraty e o Planalto não se incomodam com olhares desconfiados de líderes da região que não se afinam com a politica externa americana, como o venezuelano Hugo Chávez, o argentino Néstor Kirchner, o boliviano Evo Morales e o equatoriano Rafael Correa.

Para Lampreia, intenção da visita é política

Partiu do Brasil a idéia de transformar o etanol em commodity internacional, expandindo a produção e fazendo do combustível, no futuro, uma alternativa a parte do petróleo consumido no mundo. Com os americanos, os brasileiros são responsáveis por mais de 70% da oferta mundial de álcool.

Para o ex-ministro das Relações Exteriores Luiz Felipe Lampreia, a visita de Bush ao Brasil é mais política do que econômica. Ele acredita que o etanol está sendo usado mais como justificativa para um encontro que deverá abranger temas delicados, como a esquerdização da América do Sul:

- O etanol não tem a dimensão necessária para se tornar o eixo principal das relações Brasil-EUA. Mesmo porque Bush sempre teve forte ligação com as indústrias de petróleo.

Embora o governo espere sinais positivos de Bush quanto a linhas prioritárias defendidas por Lula, com destaque para a Rodada de Doha na Organização Mundial do Comércio (OMC) e a reforma das Nações Unidas, Lampreia é mais pessimista. Ele não acredita em avanços, pelo menos a curto prazo, nas áreas de comércio e segurança.

O mandato negociador conferido a Bush pelo Congresso americano, para que o Executivo possa firmar acordos na OMC, expira em junho deste ano. E os americanos continuam reticentes quanto à candidatura do Brasil como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU - objeto de desejo de Lula, desde que ele venceu a primeira eleição.