Título: Brasil, 4º maior produtor, exporta para países com pouco controle
Autor: Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 04/03/2007, Economia, p. 32

Estima-se que o amianto movimente R$2 bi por ano

Ambientalistas criticam venda para locais sem fiscalização no trabalho

Cássia Almeida

O Brasil é o quarto maior produtor de amianto do mundo, com mais de 220 mil toneladas por ano, perdendo apenas para Rússia, Cazaquistão e China, e respondendo por cerca de 11% de toda a produção mundial. A importância econômica dessa fibra está num movimento estimado pelo mercado em R$2 bilhões anuais.

O consumo interno vem caindo, e a exportação tem sido o caminho para escoar a produção da maior mina da América Latina e a terceira do mundo: a jazida Cana Brava, que fica em Minaçu (GO) e pertence à Sama, empresa do grupo Eternit. Especialistas criticam esse comércio brasileiro, já que a exportação é feita para países com pouco controle sobre os ambientes de trabalho que usam a fibra, comprovadamente cancerígena.

Eduardo Algranti, médico da Fundacentro, entidade que estuda acidentes e doenças ocupacionais e é ligado ao Ministério do Trabalho, é um desses críticos. Ele lembra da situação inversa que o Brasil vive hoje. Há 20 anos, conta ele, os ativistas pelo fim do amianto criticavam o Canadá, que não usava a fibra, mas exportava:

- O consumo no Brasil vem caindo, e o país, a cada dia, exporta mais para países sem condições de fiscalizar os ambientes de trabalho.

Ministério vê disputa comercial por trás do debate

Claudio Scliar, secretário de Geologia, Mineração e Transformação Mineral do Ministério de Minas e Energia, tem outra visão. Segundo ele, essa discussão está diretamente ligada à disputa comercial:

- Essa discussão do banimento tem a ver com disputa acirrada de mercado. Já há suspeitas de que fibras sintéticas alternativas são nocivas à saúde também.

Alheia aos movimentos de mercado, a família de Rosa Amélia de Araújo ainda sofre com a perda de uma das maiores lutadoras contra o amianto. Há mais de dez anos, quando se viu doente, começou a enviar colegas de trabalho na fábrica Asberit para exame na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Uma rua na fundação receberá seu nome:

- Minha mãe sofreu de hospital em hospital. Chegava em casa branca de pó de amianto. Sofreu muito com as seguidas pneumonias - conta a filha Inês Machado.