Título: Uma cidade que gira em torno do amianto
Autor: Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 04/03/2007, Economia, p. 33

Mineradora responde por 50% da arrecadação municipal; população teme perder sustento

MINAÇU (GO). Os moradores de Minaçu não convivem apenas com o medo das doenças relacionadas ao amianto. Com a cruzada mundial contra o minério, a população teme perder o meio de sobrevivência. A extração rendeu à mineradora Sama uma receita de R$250 milhões em 2006. Ela emprega cerca de mil moradores direta e indiretamente, e responde por metade da arrecadação mensal de R$3 milhões da prefeitura.

Minaçu gira em torno do amianto. Há 29 ruas com nomes na cidade: uma homenageia o minério. O Hotel Crisotila não tem o nome do amianto produzido na cidade desinteressadamente: está sempre cheio e dá lucro. O resultado é garantido também por uma pedra de amianto de cerca de um metro cúbico, exposta no estabelecimento.

Mas o círculo virtuoso pode estar com os dias contados. Para Joaquim Rodrigues Nascimento, procurador do trabalho em Brasília, que apresentou uma tese sobre o meio ambiente do trabalho e o uso do amianto, há espaço para a Justiça banir a atividade com o mineral:

¿ O Brasil é signatário da Convenção 162 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que estabelece que o uso do amianto deve ser controlado e, quando possível, abolido. O Brasil tem tecnologia para não usar amianto, e ela tornaria as caixas d'água apenas 15% mais caras.

A Sama se arma com a lei. No Brasil, é permitido o uso do mineral, desde que não existam mais de duas fibras de amianto por centímetro cúbico de ar.

O prefeito da cidade ¿ que foi engenheiro da Sama por 15 anos e mora na vila dentro da empresa ¿ diz que, sem o mineral, a cidade não existiria:

¿ Se formos banir o amianto, temos que banir também o ouro e o carvão.

Cláudia de Souza e Silva, cujo pai está doente, em tratamento em Goiânia, negocia a indenização com a empresa. Ela conta que há tratamento diferenciado, dependendo do nível de instrução. Afirma ¿ e outros moradores confirmam ¿ que há uma escala: em geral, morte é indenizada em R$30 mil, e doenças, em R$15 mil a R$5 mil. Diz que muitos ex-funcionários assinaram acordo de indenização:

¿ Eles brincam com a situação das pessoas. (H.G.B.)