Título: De aliado de FH a ministro de Lula
Autor: Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 05/03/2007, O País, p. 3

Geddel, do PMDB, foi crítico ferrenho do primeiro governo petista

BRASÍLIA. Fuzilado com o apelido de "percevejo de gabinete" pelo ex-presidente Itamar Franco, aliado de última hora do governador da Bahia, Jaques Wagner, na campanha que garantiu a eleição do petista em outubro, o deputado baiano Geddel Vieira Lima poderá ganhar de presente de aniversário - que será no próximo dia 18 - um cargo no Ministério do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Geddel se tornou aliado do atual governo petista depois de ser identificado, por anos, como defensor do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e crítico ferrenho do primeiro mandato do presidente Lula. Em seu quinto mandato na Câmara, Geddel deve ocupar o Ministério da Integração Nacional - um reduto que foi do PMDB no governo Fernando Henrique, passou para o PPS e, depois, para o PSB de Ciro Gomes (CE).

Nos últimos anos, Geddel conseguiu ser motivo de ira de políticos como o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) e o ex-presidente Itamar Franco. O apelido de "percevejo de gabinete" foi interpretado como uma crítica ao comportamento de peemedebistas que sempre preferem estar ligados aos governos, para serem agraciados com cargos públicos.

Geddel foi líder do PMDB e do bloco de apoio durante praticamente todo o governo Fernando Henrique, nos dois mandatos. Por isso, tem trânsito e influência na bancada. Diante da divisão na Bahia entre o grupo liderado por Antonio Carlos Magalhães e a oposição, agora personificada no petista Jaques Wagner, Geddel se apressou em explicar aos eleitores baianos sua mudança de posição, passando de crítico de Lula a apoiador da candidatura do petista ao governo estadual.

Segundo aliados, sempre que perguntado sobre o assunto, Geddel costuma dizer que optou por fazer um contrato com o eleitorado baiano, "numa frente contra o carlismo", deixando de lado suas antigas posições na política nacional.

Nos últimos anos, Geddel e Antonio Carlos Magalhães vêm travando uma guerra na política baiana que muitas vezes acabou no noticiário nacional. O pai de Geddel, Afrísio Vieira Lima, chegou a integrar o secretariado do então governador Antonio Carlos, mas houve um rompimento político - cristalizado com a morte de Luiz Eduardo Magalhães, de quem o deputado era muito amigo.

Em 2001, no auge da disputa pela presidência do Senado com o então senador Jader Barbalho (PMDB), Antonio Carlos Magalhães divulgou um vídeo em que mostrava bens e viagens de Geddel. O deputado, segundo assessores, determinou que a Polícia Federal investigasse o vídeo - apelidado pelo senador pefelista de "Geddel vai às compras" - e a situação financeira de sua família. Ele teria recebido relatório da PF isentando-o de irregularidades.

Na guerra, um dos episódios mais polêmicos foi o do grampo telefônico do qual Geddel e outros políticos baianos, como o então líder do PT, deputado Nelson Pelegrino, foram vítimas. Na época, Antonio Carlos Magalhães foi acusado de ser o mandante do grampo. O caso foi parar no Supremo Tribunal Federal, que arquivou a denúncia contra o senador.

Em 1993, Geddel teve seu nome envolvido numa investigação da CPI do Orçamento, a CPI dos Anões, mas foi inocentado. Na ocasião, o deputado ocupou o noticiário, em seu primeiro mandato: chorou muito ao depor. O choro deu resultado e ele acabou retirado das investigações. Na época, o presidente da Câmara era o então aliado de Geddel, deputado Luiz Eduardo Magalhães (PFL), filho de Antonio Carlos.