Título: Novela perto do fim
Autor: Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 05/03/2007, O País, p. 3

À ESPERA DAS MUDANÇAS

Cristiane Jungblut

Depois de adiar por mais de uma semana a reunião com a direção do PT para tratar de reforma ministerial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva marcou para hoje um encontro com o presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini, num sinal de que a reforma, levada em banho-maria há 120 dias, entrou na reta final e deve mesmo ser concluída esta semana - antes da convenção do PMDB, marcada para domingo. Na reunião, o presidente deve informar qual será participação do PT e do PMDB na sua nova equipe. A situação da ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy deve ser definida. Berzoini vai levar a lista elaborada pelo partido insistindo na escolha de Marta para o Ministério das Cidades, mas isso dificilmente ocorrerá.

O PT também vai indicar o deputado Walter Pinheiro (BA) para o Ministério do Desenvolvimento Agrário. Outros petistas que poderão integrar a lista para a Secretaria Nacional de Direitos Humanos são o ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (SP), o deputado estadual Renato Simões (SP) e a deputada federal Iriny Lopes (ES).

Lula terá encontros separados com Berzoini e com o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), que deverá estar acompanhado pelo deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), cotado para ser o novo ministro da Integração Nacional. O nome de Geddel não está na agenda oficial de Lula, mas assessores do presidente informaram que o peemedebista estará com Wagner, que Geddel ajudou a eleger na Bahia.

Lula tem sido aconselhado por ministros e assessores a antecipar o anúncio da reforma ministerial e não esperar a convenção do PMDB. O argumento é que um anúncio posterior à convenção poderia ser "simbolicamente ruim", passando a imagem de fisiologismo na escolha dos ministros. Além disso, a situação do candidato do Planalto, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Nelson Jobim, é delicada na disputa com o atual presidente, Michel Temer. Uma derrota de Jobim poderia ser debitada na conta de Lula.

A avaliação, porém, é de que talvez o anúncio não seja possível esta semana, porque Lula terá uma agenda repleta de compromissos, como a reunião com os 27 governadores, amanhã, e o encontro com o presidente dos EUA, George W. Bush.

- Quando der, eu faço (a reforma) - disse Lula a assessores, no fim de semana, depois de chegar da viagem à Guiana.

PT irrita presidente com insistência

Lula ficou especialmente irritado com a pressão do grupo de Marta Suplicy para que ela seja ministra, e ainda com a exigência da pasta das Cidades para a ex-prefeita.

- O presidente tem que ficar à vontade para escolher seus ministros. Mas a Marta, dentro dos quadros do PT, tem todas as condições para integrar o segundo governo. É essa sugestão que está posta - disse o secretário de Finanças do PT, Paulo Ferreira, confirmando o interesse pela pasta das Cidades, embora o PP avise que não abre mão de manter o ministro Márcio Fortes.

- Isso tudo dificulta a colocação da Marta - disse um integrante do Palácio do Planalto.

Como o PP não aceitou trocar de ministério e ir para a Agricultura, o que abriria espaço para Marta, pensou-se até em botá-la no Ministério do Turismo, com a ida de Walfrido Mares Guia para a coordenação política. Mas o mineiro já disse a Lula que não quer essa função.

Para o deputado Ricardo Barros (PP-PR), a maior preocupação do presidente Lula deve ser o equilíbrio dentro da coalizão.

- Na minha visão, a pressão para colocar a Marta é uma solução para o PT e não para o governo - disse o deputado.