Título: Senado fará audiências sobre terror
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Fonte: O Globo, 05/03/2007, O Mundo, p. 18

Idéia é ouvir moradores da tríplice fronteira sobre ligações com redes criminosas

BRASÍLIA*

A Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado (CRE) decidiu realizar audiências públicas na cidade de Foz do Iguaçu (PR) para discutir com a comunidade local os problemas da tríplice fronteira, incluindo as denúncias de supostas ligações da região com o terrorismo internacional. Requerimento neste sentido foi aprovado na semana passada e, de acordo com o presidente da comissão, senador Heráclito Fortes (PFL-PI), a idéia é ouvir da própria comunidade o que está acontecendo, para, a partir daí, desenhar possíveis soluções para a segurança e estabilidade da região, que abriga uma grande comunidade árabe.

- Queremos ouvir o que a comunidade tem a dizer. Esse assunto tem de ser aprofundado - afirmou.

A CRE também aprovou a realização de audiências na cidade de Tabatinga (AM) para tratar dos problemas da fronteira com as guerrilhas colombianas. As datas dos encontros devem ser definidas ainda esta semana, segundo Fortes.

Já o Ministério das Relações Exteriores informa que os três países da tríplice fronteira - Brasil, Argentina e Paraguai - mantêm diálogo permanente com os Estados Unidos desde o início da década, com troca de informações e investigações para detectar atividades ilegais e a possibilidade de vinculação das comunidades árabes que vivem na região com o financiamento do terrorismo internacional - assunto da série de reportagens publicada pelo GLOBO desde ontem.

"Durante todo esse período foram buscadas evidências que respaldem essa tese de que a região é foco de apoio ao terror e essas evidências nunca foram apresentadas" afirmou em nota a assessoria do MRE.

A assessoria lembra que, em dezembro passado, começou a funcionar em Foz de Iguaçu um Centro Regional de Inteligência, com funcionários da Polícia Federal brasileira, argentina e paraguaia, para aprofundar a cooperação na área de segurança pública entre os três países e as investigações de atividades ilegais na região. Destaca ainda que depois dos atentados de 11 de Setembro foi criado um grupo chamado de 3 + 1 com representantes de Brasil, Argentina, Paraguai e EUA para tratar especificamente do combate ao terrorismo na América do Sul.

Lafer: desconforto com reportagens

Na opinião do ex-ministro da Justiça Nelson Jobim, o Brasil tem uma legislação moderna de combate ao crime de lavagem de dinheiro, adequada para coibir o uso de dinheiro ilícito por organizações criminosas, inclusive para a prática de terrorismo. O ex-ministro acha que o Brasil não enfrenta problemas de terrorismo.

O ex-ministro Celso Lafer - que na época subseqüente aos atentados de 11 de Setembro detinha a pasta das Relações Exteriores, quando os EUA teriam cogitado um ataque à tríplice fronteira - afirmou ontem nunca ter ouvido falar no plano. Lafer disse ter recebido a reportagem do GLOBO de ontem com "grande desconforto".

- Claro que olhei para isso com grande desconforto. Mas também é certo que o pessoal desta área trabalha cenários e hipóteses - disse.

De acordo com Lafer, em várias ocasiões os americanos manifestaram preocupação com a tríplice fronteira mas nunca apresentaram provas que justificassem uma ação.

-O governo não recebeu nenhuma pressão. Eles manifestaram preocupações e, em todas as ocasiões, dissemos que se eles tivessem provas nós as receberíamos com todo interesse. Mas não tivemos nada, a não ser indicações vagas. Basicamente sempre foi o capítulo das remessas de dinheiro e eventuais vínculos entre pessoas que estavam lá e entidades que atuam no Oriente Médio - disse.

*COLABOROU: Ricardo Galhardo, em SP