Título: Lula insiste em negociar tarifa de importação sobre etanol; EUA rejeitam
Autor: Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 06/03/2007, O País, p. 4

Conselheiro de Bush diz que taxa não está em negociação.

" Eles (EUA) falam muito de livre comércio, mas gostam de proteger seus produtos".

BRASÍLIA e WASHINGTON. Às vésperas da chegada do presidente George W. Bush ao Brasil, e depois de fontes do governo americano já terem descartado a possibilidade de reduzir a taxa de importação sobre o etanol brasileiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou ontem a taxação cobrada pelos EUA. Lula disse que a cobrança dessa taxa não tem razão, deixando claro que esse será um dos principais pontos de discussão no encontro que ele terá na sexta-feira com o presidente americano. Em seu programa semanal de rádio, Lula disse ainda que não quer discutir a questão venezuelana com Bush, embora a atuação do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, na América Latina seja uma das preocupações do governo americano.

Por pressão dos usineiros, o governo brasileiro insiste em negociar a redução ou até mesmo o fim da cobrança em relação ao etanol. Hoje, ao exportar para os EUA, produtores brasileiros pagam US$0,30 por litro e mais 2,5% de taxa.

- Eles (os EUA) falam muito de livre comércio, mas gostam de proteger os seus produtos. Se é para ter livre comércio, vamos ter livre comércio para que a gente tenha oportunidade de vender e de comprar. Não tem sentido a alta taxa que os Estados Unidos impõem ao álcool brasileiro - disse Lula.

Nos EUA, o chefe do Conselho de Segurança Nacional, Steve Hadley, perguntado se haverá uma discussão com Lula sobre redução da tarifa para a importação de etanol, respondeu:

- Não. A tarifa não está em negociação, e não temos intenção alguma de propor uma alteração da tarifa. Isso, obviamente, é um assunto do Congresso - disse.

Sobre a possibilidade de Bush insistir em tratar de Chávez, Lula afirmou:

- Não acredito que o presidente Bush venha conversar comigo um assunto como esse (Venezuela). Até porque respeito a soberania de cada país. Acho que não há espaço para a gente discutir problemas de outros países, a não ser os nossos próprios problemas - disse Lula, ressaltando: - Se conseguirmos avançar nos nossos problemas e encontrarmos soluções para o acordo da OMC (Organização Mundial do Comércio) e para o biocombustível, já estaremos fazendo um bem à humanidade extraordinário.

Ao ser perguntado sobre os temas do encontro com Bush, Lula citou a questão dos biocombustíveis e disse que os EUA precisam conhecer detalhadamente a tecnologia brasileira para a produção de etanol e biodiesel. Ele lembrou que os EUA são grandes produtores de álcool, a partir do milho.

- Os EUA são grandes produtores de álcool, produzem álcool de milho, que encarece o álcool americano e, ao mesmo tempo, encarece o milho dos outros países. Porque, quando os EUA tiram o milho do mercado de ração para produzir álcool, o álcool fica caro, e o milho também. Penso que os EUA precisam conhecer a fundo a tecnologia brasileira na produção de etanol - disse Lula.

No programa de rádio, Lula criticou, mais uma vez, os subsídios agrícolas dados pelos EUA e pela Europa a seus produtos. O presidente disse que pedirá aos EUA o empenho para a retomada da Rodada de Doha, no âmbito da Organização Mundial do Comércio.

COLABOROU: José Meirelles Passos