Título: Bush anuncia ajuda de US$1,6 bi a países da AL
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 06/03/2007, O País, p. 5

Medida é uma tentativa de neutralizar as iniciativas populistas de Hugo Chávez na região

Quantia a ser investida em um ano é inferior ao gasto dos EUA em apenas uma semana no Iraque, de US$2 bi

José Meirelles Passos

WASHINGTON. Numa clara tentativa de neutralizar as iniciativas populistas do líder da Venezuela, Hugo Chávez, na América Latina, o presidente George W. Bush procurou destacar ontem uma série de programas sociais que os Estados Unidos vão incrementar na região - visando especificamente a dar melhores condições de vida aos pobres - a partir de sua viagem a Brasil, Uruguai, Colômbia, Guatemala e México, que será iniciada na próxima quinta-feira. Ele, no entanto, priorizou a assistência financeira, na forma de concessões, sem se referir a iniciativas que promovem o crescimento econômico direto, como investimentos produtivos e a intensificação do comércio. A ajuda anual prometida por Bush é equivalente a US$1,6 bilhão para os 34 países da área, menor que o gasto semanal dos EUA no Iraque (US$2 bilhões).

Em vez de sublinhar, como de hábito, o combate ao narcotráfico e os investimentos empresariais, Bush ressaltou ações humanitárias, chegando a compará-las ao lançamento da Aliança para o Progresso - que, como lembrou, foi feito há exatamente 46 anos pelo presidente John F. Kennedy. Bush disse que considerava o seu discurso de ontem tão importante quanto o do falecido mandatário.

"Nossos irmãos e irmãs do Sul têm visto pouca melhoria"

Ele reconheceu que a democracia e a política econômica sugeridas por Washington ainda não deram os resultados esperados. Um de cada quatro latino-americanos, disse, vive com menos de US$2 por dia e muitas crianças jamais terminam a escola primária:

- Numa era de crescente prosperidade e abundância, isso é um escândalo, e é um desafio. O fato é que dezenas de milhões de nossos irmãos e irmãs do Sul têm visto pouca melhoria em sua vida diária, e isso fez com que alguns questionassem o valor da democracia - disse Bush em discurso na Câmara de Comércio Americano-Hispânica.

Pouco antes, ao comentar a viagem do presidente, o chefe do Conselho de Segurança Nacional, Steve Hadley, reconheceu que, embora Bush tenha anunciado seis anos atrás que a América Latina seria a sua prioridade, "a região não tem tido a atenção que merece":

- Essa é uma das razões que nos levam a essa viagem. Queremos deixar claro aos povos da América Latina que estamos comprometidos a ajudá-los a sair da pobreza, através da democracia e da oportunidade econômica. Queremos uma parceria com os governos que pensam direito, que estão tomando as decisões corretas para o seu povo, e fazendo um esforço para prover os benefícios da democracia e da oportunidade econômica aos seus povos.

Insistindo num contraponto à ajuda que Chávez tem oferecido à região, Bush disse que levará nessa viagem um recado "aos trabalhadores e camponeses" da região:

- Minha mensagem é: vocês têm um amigo nos EUA. Nós nos preocupamos com vocês.

Bush chegou a disparar uma farpa em direção ao líder venezuelano, mencionando o seu herói. Lembrou que "não muito longe da Casa Branca está uma estátua do grande libertador, Simon Bolívar, que é freqüentemente comparado a George Washington". E completou:

- Nenhum dos dois foi destinado a ter filhos. Mas somos filhos e filhas da luta deles, e é nossa missão completar a revolução que eles começaram em nossos continentes.