Título: PMDB hoje só trata de cargos
Autor: Franco, Ilimar e Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 06/03/2007, O País, p. 10

BRASÍLIA. O ex-presidente do STF Nelson Jobim diz que quer assumir a presidência do PMDB para construir um projeto nacional para o partido. Ele afirma que não pertence a grupos e que sua principal missão no cargo será fazer o partido adotar posições sobre grandes temas nacionais, para ter condições de dialogar e influir no governo.

O que está em jogo na disputa pela presidência do PMDB?

NELSON JOBIM: O PMDB fez uma opção regional nos últimos anos. Fez 13 milhões de votos, o maior número de governadores, senadores e deputados federais. Mas lhe falta uma ação nacional. Ele só age em bloco quando a questão é fisiologismo. Primeiro, ficou a reboque do PSDB. Depois, do PT. O partido não discute mais nada, não tem um programa, só fica tratando de cargos.

Sua candidatura é criticada pelos deputados.

JOBIM: Não sou candidato da Câmara nem do Senado. Sou candidato para unir e agregar uma bandeira nacional a um partido que é regionalmente forte. O PSDB e o PFL representam os interesses do sistema financeiro; o PMDB deve ser o partido da classe média. Mas, hoje, não tem posição sobre isso, sobre as reformas política, tributária e do sistema financeiro. Quer ser ouvido, participar da formulação do governo, mas não tem uma visão sobre essas questões. Os governos não ouvem, antes de adotar medidas, aqueles que não têm posições.

Seus adversários alegam que o senhor não tem vida partidária.

JOBIM: Fui eleito deputado constituinte pelo PMDB em 1986. Fui líder na Constituinte e me reelegi em 1990. Em 1995, o presidente Fernando Henrique me convidou para ser ministro da Justiça como peemedebista. Depois, fui para o STF. Tão logo deixei o tribunal, voltei para o partido. O que é preciso perguntar é: há quantos anos o partido não se reúne? O PMDB precisa de um projeto de futuro para ter candidato em 2010.

Por que é candidato a presidir o PMDB?

JOBIM: As bases do partido querem um presidente que tenha condições de dialogar com o governo e que agregue respeitabilidade. Isso será alcançado com um presidente contra o qual há reservas e que até ontem era ferrenho opositor? O Temer está há seis anos à frente do PMDB. É hora de renovar, chega de mesmice.(Ilimar Franco)