Título: Mudança nas contas vai atingir um terço do PIB
Autor: Almeida, Cássia e Rodrigues, Luciana
Fonte: O Globo, 06/03/2007, Economia, p. 19

Administração pública pode fazer economia crescer mais. Nova contabilidade do IBGE mostrará peso de ONGs

Cássia Almeida e Luciana Rodrigues

A nova forma de se calcular o Produto Interno Bruto (PIB, a produção de bens e serviços durante um ano), anunciada ontem pelo IBGE, vai mexer, de forma profunda, com pelo menos um terço do PIB. Administração pública, aluguéis e sistema financeiro serão os setores com maiores modificações. Esses setores, que tinham boa parte estimada com base no crescimento demográfico (administração pública) e expansão média da economia (sistema financeiro), passaram a ser efetivamente medidos. Os aluguéis, antes considerados com base no número de cômodos dos imóveis, passarão a refletir as suas condições, como acesso a serviços públicos (água, luz, telefone) e localização.

- É possível que o PIB da administração pública suba um pouco - disse Roberto Olinto, coordenador de Contas Nacionais do IBGE.

Ele explicou os motivos de as mudanças só terem sido anunciadas este ano. A previsão era que fossem divulgadas no fim de 2006, mas houve problemas técnicos:

- Não é ético um instituto de pesquisa fazer revisões nos números do PIB às vésperas das eleições presidenciais.

A produção do Terceiro Setor, formado por organizações não-governamentais (ONGs), igrejas, clubes de futebol, antes incluída no conjunto das famílias, passará a ter uma conta separada.

- Divulgaremos o consumo das instituições privadas sem fins lucrativos, por termos acesso agora aos dados do Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas. Os números ainda são irrelevantes, mas devem crescer, e é tema central na discussão sobre contas nacionais - disse Olinto.

Novas pesquisas ajudarão a estimar a informalidade

O debate sobre informalidade na economia ganhará novo contorno. Antes estimado pelo IBGE em 12% do PIB, o dado será mais bem calculado. Será possível cruzar, por exemplo, a produção de cimento, com o uso de empresas formais e famílias, o consumo formiga, mais informal.

- Será possível agora fazer a conta de qual o tamanho (em reais) da economia informal - afirmou o coordenador.

O PIB absorverá em suas contas pesquisas anuais setorizadas (indústria, comércio, serviços e indústria da construção). Assim, a base para medir a economia, que era o Censo Econômico de 1985, passa a ser de 2000, e será atualizada com freqüência. Olinto avisou que as revisões serão mais intensas. O valor em reais do PIB, antes calculado por indicadores de volume mais variação de preços, agora será medido, podendo oscilar:

- Estamos avisando que as revisões poderão ser mais fortes. Ninguém pode falar que há manipulação nos números.