Título: Temor: Bovespa cai 2,81% e risco sobe 1,49%
Autor: Santos, Ana Cecília e Scofield Jr., Gilberto
Fonte: O Globo, 06/03/2007, Economia, p. 20

Desconfiança do investidor em relação à economia americana e aversão ao risco provocam nova queda nas bolsas.

RIO E PEQUIM. A preocupação dos investidores com um desaquecimento na economia americana e uma maior aversão por aplicações de risco provocaram ontem mais um dia de perdas nos mercados acionários mundiais. O movimento teve início com novas quedas nas bolsas asiáticas, começando pela de Tóquio, que fechou em baixa de 3,34%, a maior em um dia nos últimos nove meses, e atingiu seu nível mais baixo neste ano. A Bolsa de Xangai fechou em queda de 1,63%, enquanto a de Hong Kong caiu 4%. Na Malásia, a Bolsa de Kuala Lumpur teve a pior queda, de 4,64%. Acompanhando o dia negativo, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), que chegou a cair 2,92% no início do dia, encerrou a segunda-feira, em queda de 2,81%, aos 41.179 pontos.

O efeito de queda nos pregões asiáticos tem estreita relação com a cotação do iene, que ontem manteve sua trajetória de valorização em relação ao dólar, em operações conhecidas no jargão de mercado como carry trade.

Segundo analistas, desde o início da turbulência, no último dia 27, a bolsa brasileira já caiu cerca de 10%. O temor dos investidores com a alta volatilidade nos mercados globais levou o risco-Brasil - indicador de confiança dos investidores estrangeiros no país - a subir ontem 1,49%, para 204 pontos centesimais.

A saída de dinheiro dos investidores estrangeiros deve continuar por mais algumas semanas, apostam os especialistas. Marco Melo, chefe de Pesquisa e Estratégia da corretora Ágora, estima que nestes primeiros dias de março houve uma perda diária de cerca de R$150 milhões de investimentos estrangeiros. Mas ele acha que o estresse é temporário, pois os indicadores da economia americana não apontam risco de desaceleração ou de inflação nos Estados Unidos:

- Não é um cenário de pânico, pois os fundamentos internos e externos continuam positivos.

As bolsas americanas voltaram a fechar em baixa ontem, seguindo o movimento global. O índice Dow Jones caiu 0,53% e a Nasdaq, 1,15%. Para Francisco Corrêa da Costa, sócio da Personal Investimentos, os indicadores americanos ainda são positivos, mostrando que a inflação continua sob controle.

Para especialista, investidor estrangeiro voltará

Mas, diante da turbulência iniciada nos mercados asiáticos, o investidor resolveu buscar ativos de menor risco, como os títulos do tesouro americano, o que levou a uma saída de dinheiro dos mercados emergentes, incluindo o Brasil. Costa acredita, no entanto, que em pouco tempo o investimento estrangeiro deve retornar, já que não há ameaça concreta:

- Os dados da economia americana têm saído em linha com as expectativas do mercado.

A Bovespa divulgou ontem o balanço das operações de fevereiro, quando movimentou R$75 bilhões, acima dos R$64,9 bilhões de janeiro. O saldo de investimentos estrangeiros ficou positivo em R$643,4 milhões. No acumulado dos dois primeiros meses do ano, porém, esse fluxo está negativo em R$621,095 milhões.

A boa notícia ontem veio de Zhou Xiaochuan, presidente do Banco Popular da China (o banco central), que afirmou que o governo estuda a ampliação da banda de flutuação do yuan. Na prática, isto permitiria que a moeda chinesa refletisse com mais exatidão as oscilações de mercado. Desde que o governo da China desatrelou o yuan do dólar e deixou a moeda flutuar dentro de um sistema de bandas e de acordo com uma cesta de moedas, em julho de 2005, o câmbio chinês valorizou-se 6,5%.

No Brasil, o dólar voltou a fechar em ligeira alta, de 0,14%, cotado a R$2,136. O Banco Central voltou comprar dólares no mercado à vista, por R$2,1405.

(*) Correspondente (com agências internacionais)