Título: Melhor que encomenda
Autor: Cruvinel, Tereza
Fonte: O Globo, 07/03/2007, O Globo, p. 2

A reunião entre Lula e os governadores, que esteve na iminência de ser um fracasso, acabou sendo muito melhor que a encomenda, no dizer todos. A reforma ministerial só será anunciada na semana que vem, mas está praticamente pronta, destacando-se como novidade a escolha de Walfrido dos Mares Guia, do Turismo, como coordenador político.

Começando pela reunião, o que a salvou do fracasso foi o esforço do próprio Lula, na noite de anteontem, para que a equipe econômica viabilizasse o atendimento de alguns dos pleitos dos governadores, e o ambiente em que transcorreu o encontro fosse desarmado e descontraído. "Foi uma reunião presidida pelo mais puro espírito público, da parte de todos", definiu Jaques Wagner. Mas ele é aliado, diferentemente de Aécio Neves, o que mais receou uma reunião de "prato feito e monólogo", que admitiu:

- A reunião superou minha expectativa. Vi um presidente agora comprometido não só com seu partido e seus aliados, mas pensando no legado, na História. Isso passa pela superação desse modelo perverso de concentração tributária em desfavor da federação. Foi reaberto um diálogo de alto nível. Não podemos jogar essa chance fora.

Na noite de anteontem, informado de que boa parte dos governadores estava desconfiada, Lula determinou aos ministros Mantega, Dilma Rousseff, Paulo Bernardo e Tarso Genro que montassem uma pauta positiva. Que encontrassem uma forma de atender a pelo menos alguns dos 12 pedidos deles. Decidiu também que a reforma tributária seria o segundo ponto da conversa, que deveria começar pelas reivindicações. A proposta pronta da Fazenda não seria apresentada, mas apenas os "princípios de uma reforma a ser construída em conjunto". É improvável que isso aconteça, o tema os divide, mas o pior foi evitado.

Na noite de anteontem, o governador do Piauí, Wellington Dias, foi aos ministros tentar convencê-los de que a permissão para que os estados renegociem suas dívidas no mercado não é danosa à responsabilidade fiscal. Poderão quitá-la com a União, buscando recursos, e prazos mais longos, com agentes financeiros. Os outros pontos também representam alguma folga para os estados: a permissão para terceirizarem a cobrança das dívidas, a desoneração de PIS-Cofins para as empresas de saneamento (proposta de Serra), o novo cálculo do Fundeb, a mudança de rito para o pagamento de precatórios, o não contingenciamento de recursos de segurança e educação.

Mas o clima amistoso ajudou muito no entendimento, disseram todos. E isso começou logo na chegada de Aécio - ele e Sérgio Cabral, juntos e atrasados, desculpando-se.

- O Sérgio, não sei se por conta própria ou por sua orientação, passou a viagem me doutrinando. Com mais meia hora de vôo eu já chegava aqui integrado à base de Vossa Excelência.

José Serra foi muito objetivo nas intervenções, apontando possibilidades de colaboração, mas também o que mais conversou com Lula depois da reunião.

- Saí depois das 16h e deixei os dois lá num tititi danado - contou Marcelo Déda.

Emprego, segurança e educação serão temas de novas reuniões. Devem todos aproveitar, enquanto a eleição ainda está longe, para trabalharem em favor dos governados.