Título: Bode assado e proposta de união por serem todos cartas fora do baralho
Autor: Lima, Maria e Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 07/03/2007, O País, p. 4

Atenção especial dada a Serra provocou ciúme em petistas.

Lula marcou nova reunião para junho e pediu que não esperem grandes decisões.

BRASÍLIA. O cardápio - bode assado e sorvete de goma - podia não ser o mais indicado para agradar ao governador de São Paulo, José Serra. Mas chamou a atenção, e até despertou certo ciúme nos governadores petistas, os afagos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no tucano. Se alguns governadores entraram desconfiados na Granja do Torto, saíram mostrando uma surpreendente felicidade com o avanço das negociações sobre a renegociação de dívidas e a possibilidade de discutir um novo pacto federativo.

Com vinho e uma boa conversa, Lula convenceu seus convidados que eles não têm por que brigar ou entrar em confronto, já que todos ali já tinham sido eleitos ou reeleitos, e não precisavam disputar entre si, dificultando um pacto nacional.

- Não vamos brigar entre a gente, somos cartas fora do baralho, não vamos nos reeleger mais. Portanto, não precisamos fazer nenhum confronto, vamos nos unir - disse Lula, dando início à descontração que, segundo relato dos presentes, prevaleceu durante todo o encontro.

O presidente combinou uma nova reunião para junho, mas aconselhou os governadores a não criarem muita expectativa de grandes decisões. E apelou, mais uma vez, para sua preferida comparação futebolística.

- Se criarem muita expectativa, o povo vai ficar esperando um gol de placa. Se só fizermos um gol de canela, vai parecer que não marcamos gol nenhum. Nem vocês vão levar tudo que querem nem o governo federal vai ser tão fechado quanto pretende. Temos que encontrar o meio-termo - disse Lula.

Tucanos entre os mais animados

O clima foi de descontração total. Num momento, o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, não se conteve e fez questão de elogiar o bom humor de Lula, afirmando que o presidente estava com um semblante nunca visto. Lula devolveu a brincadeira, afirmando que iria pedir ao governador mineiro que mandasse seu barbeiro para o também tucano governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima, que está com os cabelos compridos.

Ao fim da reunião, formou-se uma fila de governadores que queriam conversar separadamente sobre questões regionais com Lula.

- Rapaz! Tive de esperar meia hora na fila para conseguir falar com Lula. Serra agarrou o homem de papo e não soltava mais - brincou Marcelo Déda, governador petista de Sergipe.

- Lula e Serra estavam tão entrosados que parecia que jogavam bola de gude desde criancinha - brincou Cássio Cunha Lima.

O presidente deu chance para que cada um deles colocasse seu ponto de vista e pré-agendou mais três encontros com o grupo até o fim do ano.

O governador de Alagoas, Teotônio Vilela, também do PSDB, fez uma intervenção emocionada ao detalhar a situação de penúria encontrada no estado e fez questão de agradecer a ajuda que vem recebendo do governo federal. Ao relembrar as dificuldades enfrentadas pelo governador tucano de Alagoas, Lula, tentando descontrair o ambiente, brincou, dizendo não entender como ele teve coragem de se candidatar ao posto.

Na saída da Granja, todos os governadores exaltaram os resultados da reunião. Mas os tucanos, surpreendentemente, eram os mais animados.

- A gente tem que acreditar, temos que acreditar. Eu saio muito animado! - dizia Cunha Lima, que prometeu atender ao apelo de Lula e sair dali direto para o cabeleireiro.

Com enxaqueca, o governador do Ceará, Cid Gomes, saiu antes do almoço.

COLABOROU: Adriana Vasconcelos