Título: Jobim desiste, abre crise no PMDB, e Lula adia reforma
Autor: Franco, Ilimar e Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 07/03/2007, O País, p. 9

Resta-me afastar-me em definitivo da contenda".

BRASÍLIA. Depois de avaliar o quadro eleitoral da disputa pela presidência do PMDB e concluir que não tinha votos para impedir a reeleição do presidente do partido, Michel Temer (SP), o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Nelson Jobim retirou sua candidatura. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi comunicado por telefone, às 9h, pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Uma hora depois, Jobim divulgou uma nota curta em que apresenta como argumento para a renúncia a preferência do governo Lula pela reeleição de Temer.

Lula, que estava na reunião com os governadores quando saiu a nota de Jobim, não gostou do tom e escalou o ministro Tarso Genro (Relações Institucionais) para fazer um comunicado à imprensa. O ministro negou a interferência do governo na disputa do PMDB e anunciou que o presidente adiaria o anúncio da reforma ministerial.

Para Jobim, apresentado por seus aliados como o preferido de Lula, o fato de o presidente ter convidado, anteontem, o deputado Geddel Vieira Lima (BA) para ser ministro da Integração Nacional e de ter agendado para ontem uma audiência com Michel Temer caracterizava, de forma objetiva, sua opção para o comando do PMDB. A nota de renúncia diz: "Os acontecimentos das últimas horas enunciam opção objetiva do governo quanto à disputa no PMDB. Diante disso, resta-me afastar-me em definitivo da contenda".

Na conversa por telefone com Lula, Renan reclamou do fato de ele receber Geddel e Temer, na semana da convenção, e lembrou que no domingo, no Palácio da Alvorada, ele, o senador José Sarney (AP) e a senadora Roseana Sarney (MA) pediram-lhe que deixasse para fazer o convite depois da convenção.

- Presidente, diante de tudo o que ocorreu, nós nos sentimos liberados - disse Renan, ao encerrar a conversa.

Lula: "É muito injusto o Jobim pôr isso na minha conta"

Irritado com o que classificou de interferência do Planalto na disputa pelo comando do PMDB, um grupo de senadores, liderados por Renan, Sarney e três governadores - Sérgio Cabral (RJ), Marcelo Miranda (TO) e Eduardo Braga (AM) - decidiu não comparecer à convenção de domingo. A idéia é tentar não dar legitimidade à reeleição de Temer.

Lula ficou decepcionado com o argumento usado por Jobim para desistir, e se queixou a governadores:

- É muito injusto o Jobim pôr isso na minha conta. Fiz vários gestos de apoio.

Tarso Genro tratou da questão na mesma linha:

- É um equívoco dizer que houve interferência do governo. Todos sabem da postura de simpatia e acolhimento do presidente Lula para com Jobim, assim como sabem também que ele tem uma relação correta com a direção nacional do PMDB, representada pelo presidente Michel Temer - disse. - O presidente vai anunciar a reforma na próxima semana exatamente para não ser lida inicialmente como qualquer interferência na situação do PMDB.

A decisão de Jobim de renunciar foi tomada numa reunião dele com Renan; o líder do governo no Senado, Romero Jucá (RR); Sarney; o presidente da Transpetro, Sergio Machado; e os deputados Jader Barbalho (PA) Olavo Calheiros (AL) e Aníbal Gomes (CE). A situação eleitoral de Jobim era difícil, como Renan já havia relatado ao presidente no domingo, quando pediu que ele entrasse em campo para mudar a posição de alguns peemedebistas. Lula não ajudou e, ao receber Geddel e depois Temer, sinalizou ao partido que o grupo de Temer também tinha um canal de diálogo.

Presidente chamou Renan e Sarney para reunião

Lula ainda tentou contornar a revolta de seus aliados no PMDB. Em seu nome, Cabral levou a Renan e Sarney um convite para uma reunião. Mesmo solidário a Jobim, Cabral afirmou que o episódio não deverá abalar sua relação com Lula.

A irritação de Renan, Sarney e Jader é grande, mas eles não devem se afastar do governo. Mesmo inconformados, prevaleceu, no final do dia, o entendimento de que não se deveria esticar a corda - o grupo já está contemplado no governo e tem chances de continuar fazendo parte da interlocução com o presidente.