Título: E Marta pode ir parar no Turismo
Autor: Franco,Ilimar e Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 07/03/2007, O País, p. 12
Presidente não esconde irritação com pressão de grupo da ex-prefeita
BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai tentar, pela segunda vez, escalar um coordenador político que não é filiado ao PT e pertence a um partido médio da base aliada. Os principais interlocutores do PT no governo Lula dão como certa a escolha do ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia, para o Ministério das Relações Institucionais, cujo ministro, Tarso Genro, assumirá a Justiça. A escolha de Mares Guia abre espaço para que o presidente Lula acomode a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy no Ministério, colocando-a no Turismo.
Os aliados de Marta no PT acham pouco esta pasta, pois ela não teria a visibilidade de ministérios como Cidades e Educação. Mas eles consideram que dificilmente ela recusaria um convite.
Prevendo dificuldades com Marta Suplicy, o presidente Lula disse a petistas que, num primeiro momento, poderia deixar Mares Guia acumulando duas pastas. O presidente quer Marta no governo, mas diz que não aceita a forma impositiva como se pretende integrá-la à equipe. Esta posição foi apresentada na noite de segunda-feira ao presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP). Em várias conversas o presidente reclamou da atitude do grupo político de Marta.
- Esse pessoal da Marta pensa que ela é uma instituição. Quer dizer que tenho de abrir mão de 42 votos do PP para colocá-la no Cidades? Esse menino, o Fernando Haddad, está fazendo um trabalho incrível na Educação, e querem que o tire de lá - reclamou Lula.
De acordo com um dirigente petista, o presidente está cansado dos estragos que a política regional de São Paulo provoca no governo. No primeiro mandato, uma sucessão de disputas enfraqueceu o trabalho de articulação política, como o embate permanente entre os ministros José Dirceu e Antonio Palocci; os ministros Aldo Rebelo e José Dirceu; o senador Aloizio Mercadante e o deputado João Paulo Cunha. Por isso, não quer mais paulistas de peso na cozinha do Planalto. A escolha de Mares Guia para as Relações Institucionais se encaixa nesse molde.
- O Mares Guia tem uma ótima relação com o presidente Lula, tem bom trânsito no Congresso, é jeitoso e está enfrentando dificuldades no PTB - disse um auxiliar do presidente Lula.
A ida de Mares Guia para a articulação política do governo é a maior surpresa da reforma ministerial até agora. O ministro não confirma que tenha recebido convite ou sondagem, mas tem procurado estreitar seus laços com o PT. Na segunda-feira foi a uma festa de aniversário do governador Wellington Dias (PI) e depois a um jantar com os governadores Jaques Wagner (BA) e Marcelo Déda (SE).
É a segunda vez que um não-petista pode ocupar o cargo. O primeiro foi o ex-presidente da Câmara Aldo Rebelo (PCdoB-SP), que entrou em rota de colisão com o grupo político liderado pelo ex-ministro José Dirceu. Lula estaria determinado a enfrentar de novo essa situação.(Ilimar Franco)