Título: Chegada de Bush vai parar SP
Autor: Freire, Flávio e Kawaguti, Luiz
Fonte: O Globo, 08/03/2007, O País, p. 3

Quatro mil agentes de segurança estarão nas ruas, e avenidas serão fechadas.

Assim que desembarcar no Brasil, no fim da tarde de hoje, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, mobilizará um exército de mais de quatro mil homens em torno de sua segurança, o que deverá parar São Paulo. Policiais, fuzileiros, atiradores de elite, agentes do FBI e soldados brasileiros serão responsáveis por monitorar todos os passos que ele der durante as quase 24 horas que permanecerá no Brasil. Para evitar transtorno, o espaço aéreo de São Paulo será interditado toda vez que o presidente americano se locomover num de seus helicópteros. A pedido do governo americano, a Infraero alterou a rota dos aviões, para que nenhuma aeronave sobrevoe locais onde Bush estiver até o fim da tarde de amanhã, quando seguirá para o Uruguai.

A visita de Bush é cercada de atenção por causa dos protestos que ele deve enfrentar e do medo de eventuais ataques terroristas. Comandado pelo FBI, o esquema de segurança vem fazendo varredura pelos locais onde Bush passará há cerca de dois meses. Além dos quatro mil homens, outros 800 estão de prontidão.

Limusine blindada até o hotel em SP

Para coordenar o esquema foi montado o Comando de Operações de Segurança Integrada (Cosi), órgão do Exército responsável por comandar as ações de Polícia Federal, Polícia Civil, Polícia Rodoviária Federal, Guarda Civil Metropolitana, Corpo de Bombeiros e Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). O responsável pelas operações será o general-de-divisão João Carlos Vilela Morgero, ex-comandante do Exército na missão de paz no Haiti e atual comandante da 2ª Divisão de Exército.

Ao chegar, Bush seguirá numa limusine blindada do Aeroporto Internacional de São Paulo para o Hotel Hilton, onde ficará hospedado, no Brooklin. Cerca de mil homens, entre policiais civis, militares e federais, além de agentes do FBI e soldados do Exército, acompanharão o percurso, que será feito por uma pista especialmente interditada das marginais Tietê e Pinheiros. Dois helicópteros do Exército acompanharão o cortejo, assim como 60 carros com seguranças americanos. Atiradores de elite estarão espalhados em prédios pelo caminho. No total, 1.200 fuzileiros também estarão concentrados em 35 pontos da cidade, com armamento pesado.

Embora tenham reservado três hotéis, numa estratégia para despistar eventuais ações de terroristas, o mais provável é que Bush e a sua mulher, Laura, ocupem mesmo a suíte presidencial do hotel Hilton, totalmente fechado para a comitiva presidencial americana. Nos últimos dias, agentes secretos à paisana fizeram incursões por ruas de uma favela ao lado do hotel.

A agenda de compromissos de George W. Bush começa amanhã cedo. Ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Bush conhecerá a unidade da Transpetro, em Guarulhos, onde darão início às negociações sobre a importação do etanol brasileiro. O calcanhar de Aquiles está na tarifa de US$0,58 por galão, imposta pelos Estados Unidos. O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), que participa do evento, disse que, se tiver oportunidade, pedirá ao presidente americano o fim da tarifa.

De Guarulhos, Bush e Lula voltam para São Paulo de helicóptero. O governo americano trouxe dois aparelhos, assim como todo o combustível que será usado pela comitiva americana. Num almoço reservado no Hotel Hilton, os presidentes dos Estados Unidos e do Brasil retomarão as conversas sobre etanol brasileiro. Também estarão na pauta tratados diplomáticos entre os dois países.

Trabalhadores da área revistados

Enquanto Bush estiver no Brasil, funcionários de empresas da região serão revistados ao entrar no com plexo onde está instalado o hotel. Nenhum carro poderá ser estacionado nas ruas das imediações, que terão o trânsito permitido só à comitiva americana. A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), porém, não informa quais ruas serão interditadas.

A previsão é que Bush falará à imprensa uma única vez, em entrevista no salão principal do hotel, por volta das 14h30m. Em agenda paralela, a primeira-dama Laura Bush, acompanhada de Marisa Letícia, mulher de Lula, visitará as ONGs Aprendiz e Alfasol. A primeira oferece cursos profissionalizantes a cerca de 200 jovens entre 14 e 20 anos de idade. Já a Alfasol faz parte do programa Alfabetização Solidária.

Também reforçando o caráter social, Bush, antes de embarcar para o Uruguai, visitará as instalações da Meninos do Morumbi, uma ONG que cuida de três mil crianças da Favela Paraisópolis.

Policiais do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) da Polícia Civil fizeram varredura no prédio da ONG nos últimos dias. Lá, Bush conhecerá o trabalho desenvolvido com as crianças e assistirá à apresentação de um coral. Todas as crianças que participarão do evento passarão por uma revista pessoal, além de detectores de metal e material explosivo.

Do Morumbi, o presidente George W. Bush deve seguir direto para o aeroporto internacional de Guarulhos, de onde segue para o Uruguai no fim da tarde.