Título: Declaração de Bush sobre Doha agrada a Lula
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 08/03/2007, O País, p. 8

Chávez é tema delicado, que só entrará na pauta se o americano tomar a iniciativa de abordá-lo.

Brasil quer destravar negociações na OMC e avançar na parceria para produção de etanol, tirando resultados práticos do encontro.

SÃO PAULO. As declarações sobre a Rodada de Doha e o etanol feitas pelo presidente George W. Bush em entrevista publicada ontem por jornais latino-americanos agradaram ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Uma Rodada de Doha bem-sucedida será o programa de redução de pobreza mais eficiente do mundo", disse Bush em Washington, dois dias antes de embarcar para São Paulo.

Lula quer resultados práticos que permitam o destravamento das negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC) e uma parceria sem precedentes com os EUA na produção e no comércio de álcool, como alternativa para a forte dependência do petróleo.

A prioridade dada pelo Brasil a esses dois temas será destacada no encontro de Lula com Bush. O presidente brasileiro, que chega a São Paulo amanhã de manhã, virá acompanhado dos ministros do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan; de Minas e Energia, Silas Rondeau; e das Relações Exteriores, Celso Amorim. O chanceler permanecerá na cidade no sábado, quando terá uma reunião reservada com a representante de Comércio da Casa Branca, Susan Schwab.

Assunto Chávez é quase inevitável

A influência do venezuelano Hugo Chávez na América Latina também deverá entrar na agenda do encontro entre Bush e Lula. Por mais que Lula tenha demonstrado que não está interessado em tratar do tema, a avaliação de fontes do governo brasileiro é de que o tema será inevitável.

A impressão foi reforçada pela entrevista de Bush, na qual ele ataca o socialismo pregado por Chávez e defende o livre mercado, sem disfarçar sua preocupação com o venezuelano. Respondendo sobre o que achava da disseminação do modelo alternativo de desenvolvimento proposto por Chávez, disse que, "quando o Estado tenta conduzir a economia, acaba trazendo mais miséria e reduzindo as oportunidades". "Vamos deixar que outros façam a propaganda sobre o que acreditam ser a melhor maneira de agir. Tudo o que eu posso dizer é que o sistema de governo e de economia que os EUA promovem é justo. Agora, reconheço que, até as pessoas sentirem a melhora em seu bolso, haverá frustração com as formas de governo. Mas isso não significa que se deva reverter para um modelo que não funciona."

Pessoas próximas a Lula garantiram, no entanto, que a questão não será levantada pelo governo brasileiro.

- É possível que Bush fale sobre Hugo Chávez, mas o tema não é obrigatório. O presidente Lula não tomará qualquer iniciativa a esse respeito - disse uma fonte.

Dependendo do nível da interpelação, Lula poderá se ver em uma posição delicada. O Brasil tem boas relações com os EUA e a Venezuela - membro pleno do Mercosul cujas importações de produtos brasileiros aumentaram cerca de 400% nos últimos quatro anos.

Se o assunto vier à tona, Lula dirá que o Brasil tem feito a sua parte para assegurar a estabilidade política da região. Lembrará que existe, na Associação Latino-Americana de Integração (Aladi) e no próprio Mercosul, uma cláusula democrática: o país que desrespeita os princípios ditados pela democracia é excluído do grupo.