Título: Bush quer frear revolução bolivariana na AL
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 08/03/2007, O País, p. 12

Estratégia é mostrar aos governos locais que parceria com os EUA pode ter mais benefícios.

Presidente americano tenta incentivar iniciativas que se oponham e neutralizem poder de Hugo Chávez na região.

SÃO PAULO. O presidente George W. Bush desembarca na capital paulista esta noite - iniciando viagem de uma semana que também o levará a Uruguai, Colômbia, Guatemala e México - disposto a iniciar um processo de reaproximação com a América Latina.

Conselheiros e assessores da Casa Branca, que participaram das reuniões preparatórias, revelaram que foi feito um mea-culpa sobre o abandono a que a região foi relegada pela política externa de Bush, e que acabou dando espaço para a expansão da revolução bolivariana do presidente Hugo Chávez, da Venezuela. Decidiu-se, então, realizar uma reavaliação de prioridades:

- Concluímos que precisamos passar a limpo o que temos feito na região em termos de engajamento e de auxílio aos setores mais vulneráveis da sociedade, em termos de emprego, de educação, de saúde, e de segurança - disse ao GLOBO um dos participantes daqueles encontros.

Governo americano quer realçar ações na região

Ao ouvir conselhos e sugestões, Bush solicitou aos seus assessores para que tratassem de encontrar formas de "usar o poder da democracia e dos mercados livres" para criar oportunidades de bem-estar, criando um sistema de desenvolvimento que privilegie a independência político-econômica dos governos da região.

- A idéia básica é a de incentivarmos iniciativas que se oponham ao modelo Chávez, cujo objetivo é o de amarrar os povos da região a certos tipos de arranjos que criam dependência à tal política bolivariana - disse outro funcionário americano.

Ao justificar o desleixo do governo americano em relação à América Latina nos últimos anos, o chefe do Conselho de Segurança Nacional, Steve Hadley, um dos autores da agenda da viagem de Bush, admitiu que o governo não tem conseguido sequer chamar a atenção pelo pouco que tem feito:

- Uma coisa que não fizemos suficientemente bem foi divulgar o alcance total da mensagem do presidente. Ele nos disse, então, que queria ter uma iniciativa, e uma viagem, que pudessem mostrar a outra metade de sua agenda. E nós, finalmente, esperamos que ele agora possa fazer isso - disse Hadley, referindo-se ao fato de que Bush, agora, deixaria em segundo plano o que até aqui tinha sido prioritário em sua política para o hemisfério (o combate ao narcotráfico) e realçar mais o combate à pobreza.

Bush quer evitar duelo verbal com Hugo Chávez

Muito embora Bush venha à região com o objetivo de neutralizar a influência de Chávez, ele deverá referir-se a isso apenas indiretamente em suas declarações públicas. A idéia é evitar mencionar o nome do presidente venezuelano, mas apresentar iniciativas que façam contraste às que ele tem desenvolvido até aqui em alguns países da região:

- Concluímos que temos de vir à região com uma mensagem de esperança e de engajamento, e não falar sobre Chávez. Não queremos falar sobre confrontação e sim mostrar o que pode significar uma parceria com os Estados Unidos. Mostrar aos governos da região o que os seus países podem obter através desse tipo de parceria - disse ao GLOBO um dos organizadores da viagem de Bush.

Em entrevista coletiva às vésperas do embarque da delegação americana, o secretário de Estado Assistente para o Hemisfério Ocidental, Thomas Shannon, anunciou ontem que o propósito da viagem será o de destacar uma "agenda positiva". E, além disso, evitar a todo custo um duelo verbal com Chávez que, no sábado, estará comandando num estádio em Buenos Aires uma manifestação de protesto à visita de Bush à América Latina, no mesmo momento em que o presidente americano estiver discursando em Montevidéu, no Uruguai.

- Jamais encaramos isso como uma competição. O que estamos tentando fazer com a nossa assistência não é comprar favor e criar uma relação de dependência, que é o que Chávez quer fazer - disse Shannon.