Título: BC mantém conservadorismo e baixa juro só 0,25
Autor: Duarte, Patricia e Eloy, Patricia
Fonte: O Globo, 08/03/2007, Economia, p. 41

Decisão de diretores foi unânime e Selic cai pela 14ª vez seguida, para 12,75%. Empresários e sindicalistas criticam.

BRASÍLIA, RIO e SÃO PAULO. O agora ex-diretor de Política Econômica do Banco Central (BC) Afonso Bevilaqua participou das discussões, mas não votou. Mesmo assim, o conservadorismo que lhe foi atribuído desde 2003 marcou, mais uma vez, o Comitê de Política Monetária (Copom), que decidiu ontem, por unanimidade, reduzir a taxa básica de juros Selic em 0,25 ponto percentual. Com isso, os juros passam a ser de 12,75% ao ano, continuando no menor patamar na história.

A decisão já era esperada pelo mercado financeiro, que crê, porém, que há condições para reduções maiores.

- Os indicadores justificariam corte de meio ponto, mas a mudança de Bevilaqua e a turbulência no mercado internacional seguraram - avaliou o economista-chefe da corretora Fator, Vladimir Caramaschi.

- O mercado prevê inflação de 3,88% este ano, já abaixo da meta, que é de 4,5%. E essas expectativas devem recuar para 3,6% nas próximas semanas. Se isso vier acompanhado de uma perda de fôlego no consumo, o BC poderia acelerar o corte dos juros. Mas, diante da unanimidade do Copom deste mês, essa probabilidade é menor - afirmou o economista Carlos Thadeu de Freitas Filho, do Grupo de Conjuntura da UFRJ.

Mesmo com a baixa de ontem, o país mantém a maior taxa real de juros do mundo: 8,6%, segundo cálculos consultoria UpTrend, considerando a nova Selic de 12,75% e descontada a projeção de inflação para os próximos 12 meses (4,15%).

O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, defendeu a decisão do Copom, ressaltando que é a 14ª reunião consecutiva em que os juros caem e que o Brasil já está com a taxa mais baixa dos últimos 30 anos.

- Está perto o dia em que vamos ter uma taxa de 6% reais ao ano - disse o ministro.

Empresários e sindicalistas, por sua vez, criticaram o que chamaram de excessivo conservadorismo do Copom. Para o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, o BC "insiste em não se alinhar ao PAC" (o Programa de Aceleração do Crescimento).

- Precisamos chegar a dezembro com taxa máxima de 9,75% ao ano, o que significaria juros reais de 6%. Ou não há PAC que resolva - disse.

O presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, afirmou que a decisão do Copom não conseguirá "tirar o país da atual estagnação" e comprometerá o primeiro semestre, que "caminha para um crescimento raquítico". O presidente da CUT, Artur Henrique, chamou os integrantes do Copom de tecnocratas que estão "atrapalhando o país e suas chances de maior crescimento".

Dólar volta a cair e fecha a R$2,113

Em um dia marcado por fortes oscilações, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou em queda de 1,28%, após subir mais de 0,40% durante o dia. O crescimento modesto da economia americana, apontado pelo Livro Bege - que coleta dados econômicos das principais cidades do país - desanimou investidores. As bolsas americanas, que também subiam, fecharam em queda: o índice Nasdaq recuou 0,44% e o Dow Jones, 0,12%.

O risco-país subiu 1,02%, para 199 pontos centesimais, mas o dólar, que encerrou os negócios antes da publicação do Livro Bege, caiu 0,24% (R$2,113).

A inflação medida pelo Índice Geral de Preços-Disponibilidade Interna (IGP-DI), calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), perdeu fôlego e ficou em 0,23% em fevereiro, após subir 0,43% em janeiro.

COLABORARAM Aguinaldo Novo, Luciana Rodrigues, Bruno Rosa e Cristiane Jungblut