Título: Protestos no Planalto e nas ruas
Autor: Aggege, Soraya e Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 09/03/2007, O País, p. 3

Horas antes de Bush chegar, Lula critica "subsídios nefastos" do governo americano

Soraya Agegge, Chico de Gois, Luiza Damé e Maiá Menezes

Na primeira parada de uma visita a cinco países da América Latina, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, chegou pouco depois das 20h de ontem a São Paulo, provocando a mobilização de mais de cinco mil agentes de segurança, com armamento pesado, e também de milhares de manifestantes reunidos em protestos por todo o Brasil. As reações à visita do presidente americano não ficaram, porém, restritas a militantes de MST, CUT, PT, PSOL, Greenpeace e outras entidades. Também o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que hoje se reunirá com Bush em São Paulo, fez, horas antes da chegada do colega, uma dura crítica aos subsídios dados pelos Estados Unidos a agricultores americanos.

- O que queremos é que os Estados Unidos possam diminuir os subsídios, tão importantes para os agricultores americanos, mas tão nefastos ao livre comércio que tanto apregoamos - disse Lula, ao receber, em Brasília, o presidente alemão, Horst Köhler, e fazer um apelo pela reabertura da Rodada de Doha, as negociações entre países membros da Organização Mundial do Comércio (OMC) para diminuir as barreiras comerciais em todo o mundo. O impasse entre os países em desenvolvimento e os desenvolvidos levou à paralisação das negociações em julho do ano passado.

- Eu penso que está na hora de uma decisão política, uma decisão dos principais dirigentes deste mundo - afirmou o presidente brasileiro, destacando que os países pobres querem que os europeus flexibilizem o acesso ao mercado agrícola.

Lula: Brasil pode reduzir taxas

A declaração de Lula, sobretudo em referência aos "nefastos subsídios" dos EUA, tem como finalidade tentar convencer Bush a reduzir as tarifas cobradas pelos americanos para a importação do etanol brasileiro. Sobre isso, porém, as divergências entre os dois países são claras: o Brasil quer o fim ou a redução das taxas cobradas pelos EUA sobre o etanol, mas o governo americano não está disposto a tentar aprovar a medida no Congresso, onde enfrentaria forte resistência de parlamentares ligados a plantadores de milho (usado para fabricar etanol nos EUA).

Lula afirmou que o Brasil também está disposto a colaborar para que haja acordo na redução das barreiras comerciais:

- Da parte do Brasil e do G-20, nós estamos dispostos, se levarmos em conta a proporcionalidade em função do tamanho e da situação econômica de cada país, a flexibilizar (as taxas) nos produtos industriais e nos serviços, para que possa haver acordo.

Lula pediu que Köhler converse com a primeira-ministra da Alemanha, Angela Merck, sobre a possibilidade de flexibilização, e prometeu fazer o mesmo com Bush.

Atos violentos em SP e no Rio

Ao chegar ao Aeroporto Internacional de Guarulhos, Bush percorreu, de carro - uma limusine blindada -, cerca de 50 quilômetros até o hotel, na Marginal Pinheiros. As ruas do trajeto foram fechadas por agentes americanos e soldados das Forças Armadas brasileiras e das polícias Federal, Militar e Civil. Antes da chegada, o clima era de tensão na cidade, não apenas por causa das mudanças no trânsito, mas pelas manifestações de protesto.

Na Avenida Paulista, um protesto de cerca de dez mil manifestantes, segundo cálculos da PM, acabou em confronto com policiais. A PM usou bombas de gás e balas de borracha para tentar dispersar os manifestantes. Pelo menos oito pessoas ficaram feridas.

No Rio de Janeiro, as manifestações começaram em locais diferentes, mas com um só alvo: o consulado dos Estados Unidos, na esquina da Avenida Presidente Wilson com Rua México, no Centro. Cerca de 200 manifestantes de PSOL, PSTU e PCB e anarquistas jogaram pedras, tinta vermelha e madeiras em direção ao consulado. Pelo menos duas pedras conseguiram marcar os vidros blindados.

Ao mesmo tempo, cerca de 400 pessoas - a maioria de mulheres - percorriam a Avenida Rio Branco com bonecos do presidente Bush, chamado de diabo e de nazista. Ao chegar em frente ao prédio, as mulheres também provocaram os seguranças do consulado, e os 12 integrantes do Batalhão de Choque da PM que guardavam o local, atirando garrafas de plástico e lixo no pátio do prédio. Um dos bonecos foi queimado.

Houve protestos em outras capitais, inclusive com o MST e a Via Campesina invadindo fazendas e usinas.